Nos últimos tempos
a problemática da obesidade tem vindo a ganhar terreno e com ela o interesse
pelas tabelas de informação nutricional presentes nos rótulos dos alimentos. Na
altura do verão ainda mais, não só por questões de saúde, mas essencialmente
para “controlo” das calorias. Grandes marcas da industria alimentar têm
manifestado “interesse” em ajudar a controlar o problema da obesidade
promovendo produtos com baixo teor calórico.
Neste contexto,
a Coca-Cola lançou recentemente a campanha mundial anti-obesidade "compromissos
globais para ajudar a combater a obesidade" – com a promessa expandir a
apresentação da informação das calorias nos rótulos de todos os seus produtos
de forma a informar e dar aos consumidores uma ampla gama de opções na escolha
de refrigerantes com baixo teor calórico. Este entusiasmo, não apenas da
coca-cola, mas de várias empresas, revela a facilidade com que o conceito pode
ser aproveitado e explorado pela industria.
A ideia partilhada
pela sociedade actual de que o problema da obesidade é explicado pela equação
de balanço de energia – calorias-in, calorias-out, devendo-se escolher
alimentos com menos calorias revela uma visão muito redutora da questão,
negligenciando a qualidade dos alimentos e a importância das diferentes fontes
de calorias.
Tem havido uma
pressão por parte de especialistas em saúde publica e nutrição para que a
informação energética apareça no rotulo de todos os alimentos de forma bem
visível e idealmente também nos menus dos restaurantes (já acontece no caso do
Mcdonals por exemplo), de forma a que essa informação possa influenciar a
escolha dos clientes e incentivar a industria a reduzir o número de calorias
dos seus produtos.
Muitas empresas
de alimentos têm-se colado à mensagem dominante da saúde publica proclamando
que todas as calorias contam no que diz respeito a ganhar ou perder peso,
passando a ideia de que uma caloria de açúcar é o mesmo que uma caloria de maça
ou banana e que a qualidade dos alimentos é irrelevante quando se trata de
ganho ou perda de peso. Esta ideia abre caminho para os alimentos altamente
processados e modificados de forma a apresentarem baixo teor calórico. Tudo
parece ideal se não se tiver em conta a lista de ingredientes (a que pouca
gente presta atenção ou consegue interpretar. Sim a quantidade de nomes
estranhos e ingredientes do tipo E’qualquer coisa’ começa a ser dominante
nalguns tipos de alimentos).
A estratégia das empresas passa por reduzir a quantidade de ingredientes refinados
e reconstituídos como o açúcar, óleos vegetais refinados e modificados, amido
modificado e extractos de produtos de carne. Estes ingredientes estão na base de
muitos alimentos altamente processados e produtos de fast food. Na parte dos
refrigerantes, a industria consegue reduzir o teor calórico recorrendo a
adoçantes artificiais como stevia e aspartamo para substituir açucares como a
sacarose ou a frutose. Todos estes aditivos, são aprovados para uso alimentar e
considerados seguros se consumidos em quantidades reduzidas. O problema é que
estão por toda a parte, tirando os alimentos simples, começa a ser difícil
encontrar produtos alimentares que não os contenham na sua composição.
A informação das calorias nos rótulos é importante e deve ser utilizada pelos
consumidores para identificar a presença das chamados "calorias
ocultas", na forma de quantidades excessivas de óleos vegetais
adicionados, açúcar, soja, farinhas altamente refinadas, e carne gorda com o
objectivo de ter uma noção da quantidade de alimento que deve ser consumido
numa determinada situação.
A ênfase que a
publicidade dos alimentos coloca nas calorias permite desviar a atenção dos
consumidores da lista de ingredientes, método de processamento e a qualidade
geral dos alimentos e da fonte de energia. Esta visão redutora despreza o
impacto dos alimentos altamente processados no metabolismo e saúde geral das
pessoas que os consomem.
Na maioria das vezes, a informação está lá, mas
da forma que mais convém à industria e não ao consumidor. É necessário que as
pessoas se tornem mais conscientes da real composição, proporção e qualidade
dos alimentos e ingredientes daquilo que ingerem de forma a verem para além das
mensagens de marketing das empresas de alimentos e refrigerantes.