Se há coisa capaz de me irritar logo de manhã, é ter de entrar num metro em hora de ponta, e não é por ter de ficar de pé ou não poder ler o jornal, é mesmo por haver demasiadas pessoas em tão pouco espaço. As pessoas em si não são o problema, a distância a que ficam de mim é que incomoda. É geral e mais ou menos automático, as pessoas evitam cruzar olhar, tentam parecer distantes, entretidas com a vista ou com a musica que ecoa dos fones, tenta-se manter um distanciamento que fisicamente não é possível, ninguém se sente muito confortável, mas não há alternativa. Quando as pessoas que me rodeiam são amigos o cenário muda um pouco, há mais alguma tolerância à invasão/partilha de espaço, quanto mais próxima for a pessoa mais natural é estar próximo sem causar incómodo. Vulgarmente conhecido como
espaço pessoal, é instintivo e determina a zona de conforto a que gostamos de manter as pessoas, consoante o tipo de relação que mantemos com elas, tal como descreveu o antropologista Edward Hall em 1966 como diagrama das bolhas invisíveis.
A evolução encarregou-se de nos programar para sentir desconforto quando alguém estranho se aproxima demasiado, talvez um instinto de defesa ou protecção. As amígdalas são as grandes responsáveis, pequenas estruturas na base do cérebro envolvidas no processamento das emoções, tal como ficou descrito em vários
estudos sobre o assunto.
É interessante observar que a dimensão da "bolha" varia consoante as culturas (os latinos sentem-se mais confortáveis com distâncias mais curtas que os americanos por exemplo) e factores como origem rural ou urbana das pessoas. Nas cidades, há bem mais situações em que é inevitável andar no meio da multidão, não há outro remédio senão ficar habituado ou mais insensível às "violações" do espaço pessoal. Por outro lado há circunstâncias em que estamos mais pré-dispostos a ficar mais próximos de estranhos ou semi-conhecidos sem disparar o alarme, tal como em momentos de convívio e descontracção nas saídas nocturnas. Contudo o facto de estarmos pré-dispostos a abdicar de alguns centímetros não significa que nos pareça normal/seja confortável estar colado a um estranho, a não ser claro que haja o factor álcool a moderar as interacções.
A distância a que duas pessoas conversam numa situação natural é um bom indicador do tipo de relação que há entre os dois. Varia à medida que se conhece melhor a outra pessoa, que se ganha confiança, se são do mesmo sexo ou do sexo oposto e se há interesse uni ou bilateral em envolvimento intimo. Quando lidamos com estranhos, somos mais permissivos a pessoas do mesmo sexo (pelo menos entre mulheres) e se for um animal de estimação (com ar pacifico) ou uma criança é possível que a aproximação para lá dos "limites" do espaço pessoal nos pareça natural.