segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Receita para um final infeliz

É sabido que desde que a Internet se tornou global e de fácil acesso, podemos encontrar todo o tipo de teorias sobre todo o tipo de assuntos, não é difícil encontrar alguém algures que partilha as mesmas ideias ou opiniões sobre determinados assuntos, mesmo que descabidos. Há várias formas de testarmos a credibilidade daquilo que lemos. Eu gosto de estudos científicos, mas mesmo esses valem o que valem. E é sobre isso que vou escrever hoje. O senhor chama-se John Gottman, dedica-se há vários anos ao estudo de relacionamentos e as suas teorias constituem parte dos fundamentos da chamada terapia de casal.

Num dos seus estudos mais conhecidos (Predicting Divorce among Newlyweds from the First Three Minutes of a Marital Conflict Discussion) apresenta um modelo para prever a ocorrência de divorcio entre casais baseando-se na forma como discutem. Ou seja, defende que a maneira como os casais se relacionam e gerem as suas discussões tem um peso determinante no sucesso ou insucesso das relações. 

Dos vários factores envolvidos salientam-se 4 (apelidados de cavaleiros do apocalipse) que são: critica, desprezo, atitude defensiva e bloqueio da conversação.

O primeiro factor é a critica, mas Gottman salienta a diferença entre critica e queixa. Todos os casais terão alguma queixa/observação a fazer um do outro, queixar-se de alguma coisa é normal, a diferença está na forma como é feita e quando a queixa se torna critica (no sentido não construtivo). Uma queixa foca-se num comportamento especifico, numa situação, enquanto que a critica ataca o carácter da pessoa. ex: "Devias me ter dito que ias chegar atrasado/a que eu teria aproveitado para fazer outra coisa enquanto esperava" Vs "Chegas sempre atrasado/a, és completamente irresponsável, nunca posso confiar em ti".

A critica, no sentido não construtivo, pode levar ao segundo factor, o desprezo. Alguns exemplos de desprezo são o sarcasmo, cinismo, insulto, revirar de olhos, escárnio ou simplesmente humor hostil. Desprezo é um dos piores "cavaleiros", pois comunica desgosto para a pessoa a quem é direccionado, afectando a sua auto estima e agravando ainda mais o conflito. Ao mesmo tempo a pessoa que critica e mostra desprezo coloca-se numa posição de superioridade, acusações e ditando as regras do jogo. Esta atitude atropela o principio de igualdade e respeito mutuo.

Uma resposta natural ao desprezo é uma atitude defensiva, o terceiro cavaleiro. Quando alguém se sente de alguma forma "atacado" tendencialmente torna-se defensivo. A atitude defensiva rejeita responsabilidades na origem do problema, quer pela forma como foi abordado, quer por não reconhecer as suas limitações. Nesta fase o problema não só não fica resolvido como escala para um novo nível, o bloqueio da comunicação, o quarto cavaleiro. Um dos parceiros "desliga" da conversa, dos argumentos e da discussão. Esta forma de desistir impossibilita uma resolução clara e pacifica do problema que esteve na origem da discussão e normalmente surge após se terem atingido os 3 cavaleiros anteriores. Aparentemente é mais comum nos homens que nas mulheres e é utilizado numa tentativa de travar o mau estar provocado pela discussão. A pessoa que bloqueia a comunicação tende a ignorar o parceiro, não dando sinais de resposta, o que torna o outro ainda mais furioso.

Segundo Gottman, cada um destes factores ou cavaleiros tem valor preditivo no divorcio/separação, sendo que na maioria das vezes estão os 4 presentes nos relacionamentos infelizes.