quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Antibioticos versus bactérias. take 2


www.theguardian.com


"Novas bactérias multirresistentes e agressivas estão a surgir em Portugal"
Esta noticia é de 2012, mas o problema continua presente nos dias de hoje e não é raro o dia em que são notícia  novos casos de infecções por bactérias multi resistentes.

Estaremos nós a chegar a uma fase em que simplesmente não teremos medicamentos eficazes para combater as novas infecções como se estivéssemos na era pré-antibióticos?

As doenças infecciosas continuam a ser uma das principais causas de morte prematura, especialmente nos países em desenvolvimento. O  aparecimento e disseminação de bactérias patogénicas resistentes aos antibióticos existentes despertaram a necessidade para o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos, contudo, nos últimos 30 anos, apenas 2 novas classes de antibióticos com novos mecanismos de acção (linezolida e daptomicina) chegaram ao mercado. Verifica-se uma diminuição do investimento no desenvolvimento de novos antibióticos, quer por razões cientificas quer por questões económicas.

 Ao longo dos anos, o progresso na biologia molecular e novas técnicas de análise têm vindo a revelar novas abordagens para a descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos, contudo é essencial que a utilização dos antibióticos actualmente existentes seja mais responsável e cuidada de forma a evitar problemas maiores com o aparecimento de bactérias multi resistentes para as quais não temos ainda tratamento eficaz.

Quando aparecem infecções causadas por bactérias que vão resistindo e persistindo a cada nova tentativa de tratamento, vão-se esgotando as opções existentes. Por exemplo tem sido cada vez mais comum o aparecimento que organismos resistentes a todos os antibióticos excepto à Colistina, um agente com elevado nível de toxicidade e eficácia duvidosa que tinha sido abandonado nos anos 60 após o aparecimento de terapias mais seguras e eficazes. Pior ainda é o aparecimento de organismos resistentes a todas as classes de antibióticos. Estas infecções são responsáveis por elevada taxa de mortalidade independentemente do tratamento aplicado e continuarão a ser causa de morte enquanto não surgirem novos métodos de prevenção e tratamento. Isto não significa que sempre que alguém tenha uma infecção por estes organismos esteja condenado. Há alguns casos em que se observa recuperação, ou seja, mesmo não havendo antibiótico eficaz, o organismo humano pode conseguir combater o agente infeccioso e recuperar. Infelizmente esta tarefa pode se mostrar mais difícil e menos provável para pessoas internadas com  estado de saúde comprometido por outras doenças.

Só recentemente é que se começou a falar desta questão e da necessidade de racionalizar a utilização dos antibióticos. A comunidade médica começou gradualmente a direccionar melhor o tratamento em vez de partir logo para o ataque em todas as frentes, contudo, acredito que se continue a tomar muitos antibióticos só porque sim, não havendo uma justificação clara para tal decisão. Em parte, esta atitude também é culpa dos utentes e da falta de informação quando acham que não é razoável esperar simplesmente que uma infecção viral passe, apenas com gestão dos sintomas, e exigem ou procuram soluções desajustadas como os antibióticos. O facto de termos mais medicamentos à nossa disposição não significa que tomá-los pelo sim pelo não (leia-se: para o caso de ser infecção bacteriana ou não) não é de todo a melhor abordagem e o aparecimento de estirpes multi resistentes são prova disso. Não obstante, os antibióticos continuam a ser aliados valiosos quando bem utilizados, o necessário é zelar para que não se tornem obsoletos demasiado depressa.


"...how the antibiotics pipeline is drying up while resistance to existing drugs is increasing. Theresa Braine reports." in  Race against time to develop new antibiotics.