terça-feira, 30 de julho de 2013

Apenas calorias



Nos últimos tempos a problemática da obesidade tem vindo a ganhar terreno e com ela o interesse pelas tabelas de informação nutricional presentes nos rótulos dos alimentos. Na altura do verão ainda mais, não só por questões de saúde, mas essencialmente para “controlo” das calorias. Grandes marcas da industria alimentar têm manifestado “interesse” em ajudar a controlar o problema da obesidade promovendo produtos com baixo teor calórico.

Neste contexto, a Coca-Cola lançou recentemente a campanha mundial anti-obesidade "compromissos globais para ajudar a combater a obesidade" – com a promessa expandir a apresentação da informação das calorias nos rótulos de todos os seus produtos de forma a informar e dar aos consumidores uma ampla gama de opções na escolha de refrigerantes com baixo teor calórico. Este entusiasmo, não apenas da coca-cola, mas de várias empresas, revela a facilidade com que o conceito pode ser aproveitado e explorado pela industria.

A ideia partilhada pela sociedade actual de que o problema da obesidade é explicado pela equação de balanço de energia – calorias-in, calorias-out, devendo-se escolher alimentos com menos calorias revela uma visão muito redutora da questão, negligenciando a qualidade dos alimentos e a importância das diferentes fontes de calorias.
Tem havido uma pressão por parte de especialistas em saúde publica e nutrição para que a informação energética apareça no rotulo de todos os alimentos de forma bem visível e idealmente também nos menus dos restaurantes (já acontece no caso do Mcdonals por exemplo), de forma a que essa informação possa influenciar a escolha dos clientes e incentivar a industria a reduzir o número de calorias dos seus produtos.

Muitas empresas de alimentos têm-se colado à mensagem dominante da saúde publica proclamando que todas as calorias contam no que diz respeito a ganhar ou perder peso, passando a ideia de que uma caloria de açúcar é o mesmo que uma caloria de maça ou banana e que a qualidade dos alimentos é irrelevante quando se trata de ganho ou perda de peso. Esta ideia abre caminho para os alimentos altamente processados e modificados de forma a apresentarem baixo teor calórico. Tudo parece ideal se não se tiver em conta a lista de ingredientes (a que pouca gente presta atenção ou consegue interpretar. Sim a quantidade de nomes estranhos e ingredientes do tipo E’qualquer coisa’ começa a ser dominante nalguns tipos de alimentos).
A estratégia das empresas passa por reduzir a quantidade de ingredientes refinados e reconstituídos como o açúcar, óleos vegetais refinados e modificados, amido modificado e extractos de produtos de carne. Estes ingredientes estão na base de muitos alimentos altamente processados e produtos de fast food. Na parte dos refrigerantes, a industria consegue reduzir o teor calórico recorrendo a adoçantes artificiais como stevia e aspartamo para substituir açucares como a sacarose ou a frutose. Todos estes aditivos, são aprovados para uso alimentar e considerados seguros se consumidos em quantidades reduzidas. O problema é que estão por toda a parte, tirando os alimentos simples, começa a ser difícil encontrar produtos alimentares que não os contenham na sua composição.

A informação das calorias nos rótulos é importante e deve ser utilizada pelos consumidores para identificar a presença das chamados "calorias ocultas", na forma de quantidades excessivas de óleos vegetais adicionados, açúcar, soja, farinhas altamente refinadas, e carne gorda com o objectivo de ter uma noção da quantidade de alimento que deve ser consumido numa determinada situação.

A ênfase que a publicidade dos alimentos coloca nas calorias permite desviar a atenção dos consumidores da lista de ingredientes, método de processamento e a qualidade geral dos alimentos e da fonte de energia. Esta visão redutora despreza o impacto dos alimentos altamente processados no metabolismo e saúde geral das pessoas que os consomem.

Na maioria das vezes, a informação está lá, mas da forma que mais convém à industria e não ao consumidor. É necessário que as pessoas se tornem mais conscientes da real composição, proporção e qualidade dos alimentos e ingredientes daquilo que ingerem de forma a verem para além das mensagens de marketing das empresas de alimentos e refrigerantes.