segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Receita para um final infeliz

É sabido que desde que a Internet se tornou global e de fácil acesso, podemos encontrar todo o tipo de teorias sobre todo o tipo de assuntos, não é difícil encontrar alguém algures que partilha as mesmas ideias ou opiniões sobre determinados assuntos, mesmo que descabidos. Há várias formas de testarmos a credibilidade daquilo que lemos. Eu gosto de estudos científicos, mas mesmo esses valem o que valem. E é sobre isso que vou escrever hoje. O senhor chama-se John Gottman, dedica-se há vários anos ao estudo de relacionamentos e as suas teorias constituem parte dos fundamentos da chamada terapia de casal.

Num dos seus estudos mais conhecidos (Predicting Divorce among Newlyweds from the First Three Minutes of a Marital Conflict Discussion) apresenta um modelo para prever a ocorrência de divorcio entre casais baseando-se na forma como discutem. Ou seja, defende que a maneira como os casais se relacionam e gerem as suas discussões tem um peso determinante no sucesso ou insucesso das relações. 

Dos vários factores envolvidos salientam-se 4 (apelidados de cavaleiros do apocalipse) que são: critica, desprezo, atitude defensiva e bloqueio da conversação.

O primeiro factor é a critica, mas Gottman salienta a diferença entre critica e queixa. Todos os casais terão alguma queixa/observação a fazer um do outro, queixar-se de alguma coisa é normal, a diferença está na forma como é feita e quando a queixa se torna critica (no sentido não construtivo). Uma queixa foca-se num comportamento especifico, numa situação, enquanto que a critica ataca o carácter da pessoa. ex: "Devias me ter dito que ias chegar atrasado/a que eu teria aproveitado para fazer outra coisa enquanto esperava" Vs "Chegas sempre atrasado/a, és completamente irresponsável, nunca posso confiar em ti".

A critica, no sentido não construtivo, pode levar ao segundo factor, o desprezo. Alguns exemplos de desprezo são o sarcasmo, cinismo, insulto, revirar de olhos, escárnio ou simplesmente humor hostil. Desprezo é um dos piores "cavaleiros", pois comunica desgosto para a pessoa a quem é direccionado, afectando a sua auto estima e agravando ainda mais o conflito. Ao mesmo tempo a pessoa que critica e mostra desprezo coloca-se numa posição de superioridade, acusações e ditando as regras do jogo. Esta atitude atropela o principio de igualdade e respeito mutuo.

Uma resposta natural ao desprezo é uma atitude defensiva, o terceiro cavaleiro. Quando alguém se sente de alguma forma "atacado" tendencialmente torna-se defensivo. A atitude defensiva rejeita responsabilidades na origem do problema, quer pela forma como foi abordado, quer por não reconhecer as suas limitações. Nesta fase o problema não só não fica resolvido como escala para um novo nível, o bloqueio da comunicação, o quarto cavaleiro. Um dos parceiros "desliga" da conversa, dos argumentos e da discussão. Esta forma de desistir impossibilita uma resolução clara e pacifica do problema que esteve na origem da discussão e normalmente surge após se terem atingido os 3 cavaleiros anteriores. Aparentemente é mais comum nos homens que nas mulheres e é utilizado numa tentativa de travar o mau estar provocado pela discussão. A pessoa que bloqueia a comunicação tende a ignorar o parceiro, não dando sinais de resposta, o que torna o outro ainda mais furioso.

Segundo Gottman, cada um destes factores ou cavaleiros tem valor preditivo no divorcio/separação, sendo que na maioria das vezes estão os 4 presentes nos relacionamentos infelizes.














terça-feira, 30 de julho de 2013

Apenas calorias



Nos últimos tempos a problemática da obesidade tem vindo a ganhar terreno e com ela o interesse pelas tabelas de informação nutricional presentes nos rótulos dos alimentos. Na altura do verão ainda mais, não só por questões de saúde, mas essencialmente para “controlo” das calorias. Grandes marcas da industria alimentar têm manifestado “interesse” em ajudar a controlar o problema da obesidade promovendo produtos com baixo teor calórico.

Neste contexto, a Coca-Cola lançou recentemente a campanha mundial anti-obesidade "compromissos globais para ajudar a combater a obesidade" – com a promessa expandir a apresentação da informação das calorias nos rótulos de todos os seus produtos de forma a informar e dar aos consumidores uma ampla gama de opções na escolha de refrigerantes com baixo teor calórico. Este entusiasmo, não apenas da coca-cola, mas de várias empresas, revela a facilidade com que o conceito pode ser aproveitado e explorado pela industria.

A ideia partilhada pela sociedade actual de que o problema da obesidade é explicado pela equação de balanço de energia – calorias-in, calorias-out, devendo-se escolher alimentos com menos calorias revela uma visão muito redutora da questão, negligenciando a qualidade dos alimentos e a importância das diferentes fontes de calorias.
Tem havido uma pressão por parte de especialistas em saúde publica e nutrição para que a informação energética apareça no rotulo de todos os alimentos de forma bem visível e idealmente também nos menus dos restaurantes (já acontece no caso do Mcdonals por exemplo), de forma a que essa informação possa influenciar a escolha dos clientes e incentivar a industria a reduzir o número de calorias dos seus produtos.

Muitas empresas de alimentos têm-se colado à mensagem dominante da saúde publica proclamando que todas as calorias contam no que diz respeito a ganhar ou perder peso, passando a ideia de que uma caloria de açúcar é o mesmo que uma caloria de maça ou banana e que a qualidade dos alimentos é irrelevante quando se trata de ganho ou perda de peso. Esta ideia abre caminho para os alimentos altamente processados e modificados de forma a apresentarem baixo teor calórico. Tudo parece ideal se não se tiver em conta a lista de ingredientes (a que pouca gente presta atenção ou consegue interpretar. Sim a quantidade de nomes estranhos e ingredientes do tipo E’qualquer coisa’ começa a ser dominante nalguns tipos de alimentos).
A estratégia das empresas passa por reduzir a quantidade de ingredientes refinados e reconstituídos como o açúcar, óleos vegetais refinados e modificados, amido modificado e extractos de produtos de carne. Estes ingredientes estão na base de muitos alimentos altamente processados e produtos de fast food. Na parte dos refrigerantes, a industria consegue reduzir o teor calórico recorrendo a adoçantes artificiais como stevia e aspartamo para substituir açucares como a sacarose ou a frutose. Todos estes aditivos, são aprovados para uso alimentar e considerados seguros se consumidos em quantidades reduzidas. O problema é que estão por toda a parte, tirando os alimentos simples, começa a ser difícil encontrar produtos alimentares que não os contenham na sua composição.

A informação das calorias nos rótulos é importante e deve ser utilizada pelos consumidores para identificar a presença das chamados "calorias ocultas", na forma de quantidades excessivas de óleos vegetais adicionados, açúcar, soja, farinhas altamente refinadas, e carne gorda com o objectivo de ter uma noção da quantidade de alimento que deve ser consumido numa determinada situação.

A ênfase que a publicidade dos alimentos coloca nas calorias permite desviar a atenção dos consumidores da lista de ingredientes, método de processamento e a qualidade geral dos alimentos e da fonte de energia. Esta visão redutora despreza o impacto dos alimentos altamente processados no metabolismo e saúde geral das pessoas que os consomem.

Na maioria das vezes, a informação está lá, mas da forma que mais convém à industria e não ao consumidor. É necessário que as pessoas se tornem mais conscientes da real composição, proporção e qualidade dos alimentos e ingredientes daquilo que ingerem de forma a verem para além das mensagens de marketing das empresas de alimentos e refrigerantes.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Copo de água



Nos últimos tempos as publicações aqui no blogue tornaram-se um pouco mais raras, não por falta de assunto interessante, mas porque o tempo parece sempre pouco e outras preocupações afastam-me daqui.

Hoje encontrei esta história algures na net. Muito simples, mas faz todo o sentido.

"Uma psicóloga andava em torno da sala enquanto dava uma aula de gestão de stress para a audiência. Quando levantou um copo com água, todos esperavam a pergunta do copo meio cheio ou meio vazio. Em vez disso, ela perguntou: "Quanto pesa este copo de água?" 


As respostas variaram entre 200 e 600 gramas.

Ela respondeu: "O peso absoluto não importa. Depende de quanto tempo vou segurá-lo. Se eu segurar o copo na mão por um minuto, não há um problema. Se o segurar durante uma hora, provavelmente vou ficar com dor no braço. Se o segurar durante um dia, vou sentir o meu braço entorpecido e paralisado. Em cada caso, o peso do copo não muda, mas quanto mais tempo o segurar, mais pesado ele se torna. "Ela continuou: "As tensões e preocupações da vida são como um copo de água. Pensar nelas  por um tempo e nada acontece. Pensar nelas um pouco mais e elas começam a doer. E se pensarmos nisso o dia todo, vamos-nos sentir sentir paralisados - incapazes de fazer qualquer coisa. "
 

É importante lembrarmo-nos de libertar as nossas tensões. No início da noite, logo que possível devemos pousar os nossos fardos. Não carregá-los durante a tarde e a noite. Lembrem-se de pousar o copo!"

sexta-feira, 3 de maio de 2013

post 2. interesses comuns


Do opposites attract?

Há a visão romântica de que os opostos se atraem. Eu não concordo. Até pode despertar alguma atenção, mas normalmente não é sustentável.

Os relacionamentos baseiam-se na procura de soluções para as nossas necessidades, muitas vezes de forma inconsciente. Ou seja, tentamos encontrar alguém que nos complementa, que nos ajude a aprender, a curar e a crescer.

Se há coisa que fortalece uma relação é a existência de interesses comuns. Até podemos achar a diferença interessante, mas no fundo o que nos faz aproximar é o entusiasmo que se partilha pelas mesmas coisas. Tendencialmente gostamos de pessoas com as quais nos identificamos ideologicamente, que têm ambições semelhantes, que gostam daquilo que nós gostamos. Não se trata de procurar alguém igual a nós, mas sim alguém que nos complementa. Alguma divergência também tem a sua piada, mas se for o oposto o mais provável é que se torne insuportável.

Numa relação é importante ter uma visão clara dos nossos interesses e dos interesses do outro. O que gostamos e não gostamos de fazer, o que ainda não se conhece mas se gostaria de experimentar. Interesses em comum podem gerar boas conversas, incentivos e momentos de convívio para o casal. Por outro lado é importante perceber que não é essencial que os dois gostem exactamente das mesmas coisas, é claro que há actividades que as mulheres apreciam, que os homens dispensam com prazer e alivio e vice-versa. Para isso existem os programas com os amigos/as ou a sós.

À medida que a relação se consolida as semelhanças tornam-se ainda mais importantes. Desde o tipo de alimentação, passatempos e estilo de vida até às ambições e planos futuros. Idealmente, há uma adaptação bilateral com vista à convergência, se houver posturas opostas em aspectos essenciais torna-se difícil avançar sem atropelar alguma das partes. Por outro lado, o respeito e tolerância pelas diferenças permite relativizar as divergências e dedicar-se ao essencial.

segunda-feira, 25 de março de 2013

HIV, batalhas ganhas e outras tantas por travar

A cura funcional de uma criança infectada pelo vírus HIV foi amplamente noticiada e marcou uma nova era na historia deste vírus. Estamos no bom caminho quanto ao desenvolvimento de terapias cada vez mais eficazes.

Com esta onda de optimismo surgem também noticias algo preocupantes de um continente onde a infecção por HIV é endémica em várias regiões e a taxa de infectados parece não querer baixar, sim, falo de África. Por detrás desta realidade está não só a dificuldade no acesso a conhecimento e tratamento adequado mas uma cultura de crenças e tradições que é difícil ultrapassar.

Para muitos africanos, dizer que a Sida é causada por um vírus que  é transmitido por contacto sexual não é explicação suficiente, havendo ainda lugar para a possibilidade de haver magia negra e maldições por detrás desta "estranha" doença. Ainda se acredita que ter sexo desprotegido com uma virgem pode curar as pessoas com Sida. É fácil perceber como esta forma de pensar, que faz parte de crenças fortemente enraizadas,  leva a um numero crescente de novos contágios, sem grande alternativa de protecção ou cura.

Segundo um artigo da CNN, em algumas partes do Sul de África, as viúvas devem ter relações sexuais desprotegidas de forma a livrar a si e a sua família de maldições. As pessoas têm medo e acreditam que esse é o caminho da purificação, ao mesmo tempo que se colocam em maior risco de ficarem infectadas com o vírus HIV. Esta tradição levou mesmo ao desenvolvimento de negócios, havendo "profissionais" que cobram preços elevados pelos seus serviços, havendo viúvas que estão dispostas a pagar a fim de evitar uma maldição sobre as suas famílias.

É um pouco estranho e difícil de compreender, mas faz parte da cultura e mesmo que os obstáculos a nivel científico estejam a ser ultrapassados, chegar até essas pessoas e protege-las/cura-las é outra batalha longe de ser vencida.


 


quarta-feira, 13 de março de 2013

post 1. comunicação nos relacionamentos

Red shell partners
 
Este será o primeiro post sobre a temática dos relacionamentos afectivos. Tal como já referi algures, escrevo pelo belo prazer de reflectir sobre os assuntos e não por achar que sei exactamente como as coisas funcionam, é apenas mais uma teoria.

Uma das coisa que eu considero mais importante numa relação é a boa comunicação entre as pessoas. Cada relacionamento resulta na combinação de duas personalidades com historias individuais que passam a escrever em conjunto uma nova história. A verdade é que os relacionamentos "começam" da forma mais inesperada e inevitavelmente cria-se uma espécie de contrato implícito na cabeça de cada um, assunções não verbais que delimitam os limites, as expectativas e os objectivos da relação. Normalíssimos e óbvios para quem os pensa, mas nem sempre os mesmo que se criam do outro lado.

Uma parte fundamental da boa comunicação num relacionamento consiste em tornar explícitos as assunções que mentalmente criámos. Expor e perceber o ponto de vista de cada um, embora compreender e respeitar não seja sinónimo de concordar, nem tem que ser.

Antes de sermos capazes de verbalizar aquilo que esperamos de uma relação é necessário fazermos uma análise profunda e sincera às nossas vontades,  perspectivas e planos para o futuro. Não adianta tentar idealizar ou fazer/dizer o politicamente correcto quando no fundo não é isso em que acreditamos. Afinal o que é que esperamos de nós e da outra pessoa no relacionamento, o que é que nos realiza e o que não suportaríamos. Quanto mais cedo estivermos conscientes das nossas perspectivas e limites e das só outro mais facilmente evitamos frustrações desnecessárias. Não se trata de impor regras ao outro, mas seria cobarde e injusto esperar um determinado comportamento quando nunca manifestámos essa intenção de forma clara.

O que muitas vezes acontece é que, para cada um, o relacionamento assume uma dimensão diferente e cada um espera coisas diferentes do outro e da relação em si sem que no entanto isso seja comunicado entre ambos. A primeira divergência vai dar origem a desilusão e alguma magoa, que se nem aí for devidamente comunicada dará inicio a um ciclo ao estilo bola de neve e uma coisa que inicialmente era quase insignificante vai adquirindo dimensões cada vez maiores e com potencial para fazer mais estragos.

Por outro lado também se pode seguir um caminho mais fácil e agradável ao ego e ao ouvido numa fase inicial, que consiste em fazer de conta que estamos numa relacionamento perfeito e somos pessoas perfeitas, e aí, com as expectativas nos píncaros vamos acumulando frustrações a cada choque com a realidade. Dará contudo muito mais trabalho manter a imagem de uma coisa que não somos, mostrar agrado por uma coisa de que não gostamos e esperar de alguém coisas que nem lhe passam pela cabeça.

Diz a sabedoria popular que as mulheres têm por habito esperar que os homens adivinhem o que lhes passa pela cabeça, enquanto os homens são mais práticos e simplesmente não gostam ou têm grande jeito para falar de sentimentos.

É claro que haverá pessoas com maior e menor capacidade para comunicar neste tipo de assuntos, um passo importante é perceber que uma comunicação eficaz pode evitar e resolver muitos mal entendidos. Vale a pena deixar de lado as ilusões e algum orgulho e fazer um esforço por verbalizar o que lhe vai na alma ao mesmo tempo que também se tenta compreender o que se passa do outro lado. Ter noção das nossas limitações e das do outro e explorar o melhor de cada um.

terça-feira, 5 de março de 2013

Como anda a saúde e a doença

Afinal quais são as principais causas de morte no mundo e como variam conforme o país?
 
O Instituto de Métrica e Avaliação de Saúde (Institute for Health Metrics and Evaluation) publicou um novo relatório do panorama de doença actual e no site é possível ver como os dados sobre saúde e mortalidade variam nos diferentes países, regiões, faixa etária e sexo. Vale a pena brincar um pouco com estas ferramentas e perceber como as causa de morte têm vindo a mudar e o que é que mais anos de vida nos tira.


http://ihmeuw.org/30
 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Resolução de São Valentin

Hoje é o famoso dia de São Valentim. Não fosse um dia tão associado ao apelo consumista, tipo Natal mas em um pouco mais restrito, era pretexto bastante simpático para festejar o amor, os relacionamentos e todas essas coisas associadas.
Mesmo que não sejamos grandes adeptos de dias temáticos, é inevitável não pensar um pouco neles e ou fazer uma pequena análise da situação. No que diz respeito a amores, está na nossa natureza a procura de um semelhante com quem possamos partilhar vivências e com sorte uma boa parte da vida. Encontrar alguém que nos aceite e nos ame e se deixe amar. É um dos factores que contribui para a nossa felicidade/realização, mas também ansiedade e desilusão. Não há uma formula que se aplique a toda a gente ou que funcione sempre, mas há padrões de comportamento que por experiência própria e alheia sabemos se é ou não o bom caminho.

Há um ano atrás, precisamente neste dia, fiz um post semi lamechas sobre o assunto, onde expressei a minha admiração pelos que entendem e cultivam o amor. Um ano depois continuo a achar que é tarefa difícil e proponho-me a dar inicio a uma nova rotina neste blogue. A ideia é escrever uma vez por mês especificamente sobre a temática dos relacionamentos, não que eu seja especialista na matéria, mas porque, como qualquer pessoa, tenho as minha teorias sobre o assunto e talvez seja um desafio engraçado passa-las para a forma escrita e porque não partilha-las também aqui. É uma tarefa algo arriscada porque a nossa perspectiva sobre este assunto varia muito consoante a nossa posição e estado de alma, mas certamente vai ser bom observar a evolução da coisa. Por outro lado comprometo-me a escrever apenas sobre aquilo em que realmente acredito, embora tenha noção de que da teoria a pratica haja alguns desvios, inerentes ao facto de não nos conhecermos completamente nem termos capacidade de controlar tudo aquilo que sentimos ou fazemos.

Happy Saint Valentine's day!!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Colhe o dia

Hoje fica apenas um poema, porque ainda há muito para colher!

Colhe o Dia, porque És Ele  

Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

Ricardo Reis, in "Odes"

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Para bem da economia


Se por um lado há séculos que se cobiça o elixir da vida eterna, por outro há quem defenda que se devia deixar morrer os velhos para beneficio da economia, como disse o ministro japonês Taro Aso. Se há quem invista dinheiro, tempo e trabalho árduo na procura de tratamentos para as doenças que inevitavelmente vão afectar uma parte da população, há quem pense que não vale a pena reunir esforços para tratar as pessoas a partir de um certo momento, pois isso representa elevados custos com zero benefícios para a economia.
É estranho e perigoso pensar assim, digo eu.

O Japão é um dos países em que a esperança média de vida é mais elevada, cerca de 87 anos no caso das mulheres e 80 anos para os homens. Embora o envelhecimento seja inevitável, para Taro Aso, é um problema e deve ser resolvido. Talvez devesse haver um limite para se receber cuidados de saúde, uma validade, como se até determinado ponto se devesse tratar e a partir daí se devesse deixar morrer. Certamente que este senhor nunca passou muito tempo num hospital ou unidade de cuidados continuados. É claro que deve haver limites, não é razoável prolongar artificialmente a vida humana a qualquer custo, mas decidam de uma vez se querem viver mais ou ser deixados morrer em casos mais complexos.

Quando nós consideramos o envelhecimento não um problema a ser resolvido mas uma alteração inevitável com a qual temos que conviver pode-se começar a pensar em formas de maximizar os benefícios públicos e privados do envelhecimento enquanto se minimiza os efeitos das doenças associadas. É possível associar longevidade e qualidade de vida a oportunidades de negócio, a responsabilidade social, a melhor educação. Enquanto houver doenças que possam ser evitadas através da alteração dos hábitos de vida, há margem para reduzir os custos de saúde ou pelo menos responsabilizar de alguma forma os candidatos a essas doenças e aos cuidados de saúde que poderiam ser evitados.

Eu, que não sou da área da economia, acho abusivo defender uma morte mais célere para os enfermos com simples intuito de beneficiar a economia. Daqui a pouco vão chegar à conclusão que os presos, os portadores de deficiência profunda e porque não os desempregados (entres outros grupos pouco produtivos) não trazem beneficio para a economia, o que se vai fazer com eles?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Mente dispersa

A mente humana tem uma  capacidade ilimitada o que faz com que disperse facilmente quando não tem uma carga de ocupação suficiente ou quando estamos a tentar focar em algo, mas preocupados com outra coisa.
Ontem estava no metro e reparei precisamente nisso. É comum encontrar pessoas com o olhar no vazio e o pensamento distante. É uma reacção semi automática, num momento estamos a ler ou a observar a paisagem e vamos sendo invadidos por pensamentos sobre coisas que não têm muito a ver e aí a mente vagueia, quase como quando sonhamos, nem sempre tem sentido, nem sempre tem elo de ligação, ás vezes nem nos damos conta que aconteceu. Os olhos continuam a ler ou a registar imagens, mas no final não nos lembramos de nada do que lemos ou vimos. Pequenas coisas fazem-nos regressar "à terra". Têm piada porque nem sempre são pensamentos racionais, é como se o nosso cérebro estivesse a tentar encontrar explicações ou a testar hipóteses para acontecimentos reais ou hipotéticos, sem grandes filtros ou censuras. Volta e meia acontece-me e fico espantada com a criatividade e de uma mente dispersa.




segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Magia do fim de ano

Às vezes a época da passagem de ano não parece ter nada de especial para alem de ser o final de Dezembro e inicio de Janeiro, contudo nem sempre é sentida assim assim, ou pelo não para toda a gente. Para além de ser o fim de um mês e inicio de outro é também o fim de um ano e inicio de outro, o que torna esta época mais propicia a balanços e resoluções para o futuro. Há varias ocasiões propicias a tais reflexões, mas esta parece ser das mais generalizadas.

À medida que nos distanciamos no tempo dos acontecimentos começamos a explorar outras perspectivas, fazemos re-avaliações e novas interpretações. O fim do ano pode ser pensado como o fim de mais uma etapa. É uma boa altura para pensar no que se tem feito e ver se está de acordo com planos/expectativas iniciais. Há o risco de se tornar nostálgico mas também podemos ter surpresas principalmente se for uma reflexão realista. É inevitável que uma boa parte das expectativas tenham saído furadas, que se fique desiludido com outras pessoas ou com nós mesmos em determinados acontecimentos, mas provavelmente também houve imprevistos e desenrolares que não estavam nos planos e se revelaram melhores do que se esperava. A par desta reflexão vem a nossa vontade de mudar tudo o que nos parece errado ou incompleto, fazemos novos planos e tomamos decisões para o novo ano. Sem saber muito bem porque, esta é também uma época em que gozamos de algum optimismo e esperança, daí que se estabeleçam objectivos que nunca passarão de desejos, mas que nos fazem acreditar que é possível e a querer correr mais riscos para lá chegar. Este é um estado que dura alguns dias ou até semanas, mas que se pode dissipar com o tempo se a vontade não for realmente forte. Há um aumento nas inscrições e idas ao ginásio ou corridas, por alguns dias come-se mais saudável, somos mais organizados e assertivos, somos mais confiantes, arriscamos mais e amamos mais. Depois vamos lentamente entrando novamente na rotina, as novas resoluções começam a ficar menos presentes e volta tudo ao normal, salvo algumas excepções.

É um ciclo que se repete todos os anos ou a cada vez que alguém decide fazer um balanço e repensar objectivos.