sábado, 31 de março de 2012

Nós e o Universo

Em 2008, numa entrevista para a Time Magazine, perguntaram a Neil de Grasse Tyson, qual era o facto mais surpreendente sobre o Universo. Este vídeo resume a sua resposta.


 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Coisa de cientistas

Eu costumo dizer que os cientistas são pessoas estranhas. Normalmente têm uma visão das coisas muito caracteristica e algo desfasada da do comum dos mortais. Tornam-se mais insensíveis (ou menos impressionáveis) face ao seu objecto de estudo, tudo tem uma razão de ser, é algo natural, é ciência!

Gunther Von Hagens, também conhecido com Dr. Death, é provavelmente um dos anatomistas mais conhecidos e ousados de toda a história. Foi o inventor do processo de plastinação que permite preservar tecidos biológicos através da injecção de resina. Desde 1970 apresentou várias exposições um pouco por o planeta, do seu trabalho resultaram corpos sem pele em várias posições, tais como a correr, saltar, tocar instrumentos e até mesmo em posições sexuais. A sua forma de trabalhar é bastante controversa, os críticos apelam ao respeito pela morte, ele simplesmente quer explorar todo o potencial do corpo humano após a morte. Nunca antes tinha sido possível observar o corpo desta forma.

"Gunther Liebchen is a personality who does not approach tasks systematically. This characteristic and his imaginativeness, that sometimes let him forget about reality, occasionally led to the development of very willful and unusual ways of working-but never in a manner that would have harmed the collective of his seminary group. On the contrary, his ways often encouraged his fellow students to critically review their own work." 

Sim, os cientistas são estranhos, às vezes é preciso alguma dose de loucura para o impensável acontecer.

Body Worlds

terça-feira, 27 de março de 2012

Facebook e entrevistas de emprego

De um modo geral há apenas 3 questões que importa apurar numa entrevista de emprego: se o candidato tem as competências necessárias para o cargo (hard and soft skills), se o trabalho se adequa ao candidato (ou seja se ele se vai sentir realizado e se vai querer dedicar-se ao seu melhor nível), e se o candidato tem uma personalidade/feitio passível de ser suportado pela restante equipa/empregador. Haverá certamente várias formas de apurar as respostas, mas numa altura em que toda a gente partilha tudo e mais alguma coisa de livre e expontânea vontade com o seu grupo de amigos e não só, algumas empresas começaram a perceber que era uma oportunidade a não desperdiçar.

Começaram por se interessar por sites pessoais e perfis no facebook. As politicas de privacidade aumentaram e já há quem ache aceitável pedir o nome de utilizador e a palavra pass para dar uma olhadela, como foi o caso reportado por Justin Bassett. A história pode ser lida aqui ou aqui. O facebook não parou de evoluir desde que apareceu e está cada vez mais eficiente a reunir e organizar todo o tipo de informação sobre aquilo que gostamos, fazemos ou pensamos. Claro que cada um é livre de lhe dar o uso que bem entende, embora não falte por aí gente sem noção do potencial da informação que lá disponibiliza. Por outro lado é claramente um abuso de poder por parte de quem faz a entrevista de emprego, que quer saber muito mais do que aquilo que é necessário para o efeito, e o candidato, enquanto entrevistado pode não estar assim tão a vontade em por à disposição de análise pormenores da sua vida pessoal que pouco ou nada terão a ver com o seu profissionalismo e capacidade de trabalho. Afinal é isso que está em causa, certo? Há uns tempos falou-se na necessidade dos jovens (no caso referiam-se aos americanos) mudarem de nome na altura da transição da vida académica para a laboral, de forma a não comprometerem as suas hipóteses de arranjar trabalho, eu começo a achar que têm é de criar vários perfis conforme o tipo de trabalho a que querem concorrer, quem sabe pode ser um factor de impacto positivo na entrevista, ou então também podem pensar duas vezes antes de fazer asneira ou partilhar demasiada informação, o que seria revelador de alguma inteligência.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Homem, sofrimento e amor



"O homem é do tamanho do sofrimento que for capaz de suportar por amor." 
Assim começava a crónica do desassossego de José Luís Nunes Martins. Li e voltei ao inicio, a frase está bem conseguida, mas não me consegui decidir se concordo ou se não passa de uma forma floreada de justificar a dor ou de justificar a "esperança que ilumina os sonhos".

A vontade de encontrar um sentido ou uma razão para os acontecimentos da vida ou mesmo para a própria vida é a ambição básica da condição humana. Reconforta, acalma, diminui a revolta e a ansiedade, acreditamos que há uma boa razão para nos pormos à prova face às adversidades, acreditamos que o esforço será recompensado, que depois da dor virá a graça. Afinal são as nossas experiências e histórias que nos moldam a maneira de ser, que nos fortalecem e dão confiança, aquilo que nos faz sofrer também nos torna mais fortes. É preciso sentir a ausência para melhor apreciar a presença. No amor também é assim. Embora às vezes se diga que só é possível amar plenamente quando não se espera nada em troca, não me parece assim tão linear. Ao nível mais básico o simples facto de amar alguém é apaziguador, engrandece a visão que temos de nós mesmos, o culminar do amor reside na sua reciprocidade, que embora nem sempre seja exigida à partida, provavelmente é o seu melhor alimento.

Há pessoas que escolhemos amar, ou amamos por acaso, há outras que nos foram "impostas", a quem se espera que aprendamos a amar, neste caso refiro-me á família. Amar um familiar próximo é fácil porque é natural, há uma ligação mais forte do que o acaso, protegemos ou/e somos protegidos, sentimos dever de amar ou gratidão manifesta na forma de amor. É difícil porque é exigente, é exaustivo, é até ao limite, porque muitas vezes implica passarmos-nos para segundo ou terceiro plano, sabendo que não seriamos capazes de fazê-lo de outra forma. Suportamos a dor, sem por em causa os nossos sentimentos. Nem tudo são rosas, nem sempre é assim, há casos em apenas se gosta ou se suporta a convivência e não somos capazes de amar, não fomos capazes de conhecer ou conhecemos bem demais, noutros ainda, nem se suporta, mas a circunstância assim o obriga.

A maneira como somos amados influencia a nossa capacidade de amar, quer a família quer as pessoas que se cruzam connosco durante a vida, influencia a nossa capacidade de "suportar o sofrimento por amor".

Continuo sem saber se concordo com a frase inicial. Talvez seja um problema de definições, a noção de sofrimento e de amor, cada um tem a sua ou então ainda não sei nada sobre o amor.

sexta-feira, 23 de março de 2012

As faces do Ácool

Há quem o refira como o produto de uma das primeiras reacções químicas a serem estudadas pelo Homem. Talvez por ser tão antigo, o seu consumo esteja tão enraizado na cultura da maioria dos países, é considerado uma droga de abuso legal. Está à disposição em diferentes tipos de bebidas, consoante o gosto, a ocasião e a finalidade. É socialmente aceite beber álcool até determinados níveis e nalguns casos pode até ser incentivado por questões médicas (o copinho de tinto à refeição), o segredo continua na quantidade e nas razões porque se consome. Ninguém vê grandes problemas no consumo de álcool em momentos de socialização, bebe-se pelo gosto, pelo efeito ou pela ocasião. Desde que a noção de limites/responsabilidade esteja presente nenhum grande mal vem ao mundo por isso. Haverá dias ou noites mais entusiasmados em que se está dispostos a testar um novo limite ou simplesmente deixa-se ir na onda para ver no que dá. Normalmente resulta em meia dúzia de figurinhas tristes que com sorte o protagonista nem vai lembrar, se for num ambiente mais ou menos controlado e em boa companhia, ficará meia história para contar um bela dor de cabeça no dia seguinte.

O verdadeiro problema, do meu ponto de vista, é quando a bebedeira pura se torna demasiado frequente, quando, se perde o controlo completo, quando passa a ser uma necessidade e um pré-requisito para a noite "resultar", seja lá o que isso signifique. Mas é óbvio que há questões bem mais importantes que daí podem resultar, uma simples bebedeira ou apenas 2 ou 3 copos pode ser o gatilho para muita coisa, inclusive os tão relatados acidentes de viação, já para não falar nos efeitos a longo prazo.

As noticias dos últimos tempos relatam que o consumo desenfreado de álcool ou aumento do numero de alcoólicos, tem-se revelado um desfio ao sistema de saúde no Reino Unido, ao ponto de considerarem necessário adoptar novas medidas que ajudem a reduzir o seu consumo. Para além dos perigos imediatos do elevado consumo de álcool, há consequências a longo prazo, há um preço. É engraçado pensar na evolução do tipo de consumo, há quem beba para aquecer, para desinibir, para divertir, para esquecer e para cair para o lado.


Este video no Youtube resume alguns dos efeitos do álcool no organismo, nomeadamente no cérebro, algures entre a componente didatica e de responsabilização.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Procrastinação estruturada

". . . anyone can do any amount of work, provided it isn't the work he is supposed to be doing at that moment." -- Robert Benchley, in Chips off the Old Benchley, 1949

Depois de identificar o problema nada como arranjar uma solução com um potencial razoável de ser bem sucedida!

Chama-se teoria da procrastinação estruturada, descrita por John Perry, professor de filosofia na universidade de Stanford e defende que para ser um empreendedor de sucesso é necessário trabalhar em algo importante de forma a evitar fazer algo ainda mais importante. Confuso? Talvez. Mereceu o prémio Ignobel da literatura em 2011.

O artigo completo, "How to procrastinate and still get things done", pode ser lido aqui aqui.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Não fazer nada

"To do nothing at all is the most difficult thing in the world, the most difficult and the most intellectual."
Oscar wild

Antes de escrever a minha opinião sobre a arte de não fazer nada tenho que fazer uma pequena declaração de interesses. Não costumo reler os posts que escrevo, quando o faço, tenho vontade de alterar, acrescentar ou tirar coisas, a maneira como acho que devem ser ditas ou escritas as coisas muda, prefiro não reler. Quando escrevo tento ser fiel às ideias em que acredito, não tenho nenhum outro interesse, é apenas a minha opinião, não me responsabilizo se for confuso, contraditório, estranho ou sem muita lógica, eu às vezes consigo ser tudo isso e ainda sobra tempo.

Uma das coisas que eu me lembro de fazer bem quando era miúda, era ficar sem fazer nada, de preferência deitadinha na erva de olhar fixo nas folhas de uma árvore ou no céu. Não sentia o mínimo remorso de não fazer nada, nem vontade de ocupar o meu tempo de outra forma. À medida que fui crescendo deixei de ter tempo para não fazer nada. Entre o estudo, brincadeiras, leitura, trabalhos domésticos e planos, havia sempre alguma coisa para fazer, tal como há hoje. 

De forma geral toda a gente gosta de se sentir ocupado, ter planos para o tempo que sobra e se mesmo assim sobrar, certamente um pc, televisão ou telemóvel será uma boa solução. A necessidade de estar ocupado aumenta quando somos confrontados com pensamentos ou sentimentos desconfortáveis. Conseguimos arranjar mil e uma coisas para fazer, quando deveríamos fazer alguma coisa que não nos agrada muito ou para a qual não estamos motivados. Começamos a fazer listas de tarefas e mais tarefas que nos vão manter a mente distraída e longe do problema que a aflige. Procura-se manter a auto-estima através de outros desafios e se possível, sentirmos-nos úteis. Um período de inactividade relança o desconforto e a frustração. 

Mas que mal poderia ter a lista de "coisas a fazer", afinal é razoável pensar que uma boa forma de nos afastar ou colocar em perspectiva as nossas preocupações seria procurando distracções, explorando outras faces, por outro lado é preciso aproveitar o tempo. Aliás a vontade de não fazer nada é normalmente um dos sintomas que caracteriza a depressão. O problema é que é um ciclo vicioso, que condena à exaustão e à fuga do problema real. A capacidade de usufruir das "tarefas/actividades" fica abaixo do desejável. É um jogo que serve apenas para nos enganar, para continuar a fazer uma coisa de que não gostamos ou que nos deixa infeliz. É um mecanismo de defesa que tem um efeito positivo a curto prazo, mas se pode revelar desastroso quando accionado por demasiado tempo.

É bom ficar sem fazer nada de consciência tranquila e mente serena, certamente não é fácil, pois mesmo que o corpo abrande o pensamento corre livre e quase com vontade própria.


sexta-feira, 16 de março de 2012

O ciclo do tempo

De quando em onde, a vida faz-nos regressar a sítios aonde não pensávamos voltar, normalmente por razões diferentes das que lá nos levaram anteriormente. Faz-nos recuperar histórias que pensávamos esquecidas, sentir o espaço de forma diferente. Outras vezes revemos-nos em acontecimentos e situações que nos deixam a nítida sensação de que já passámos por lá, ou como expectador, noutro papel ou porque não no mesmo. Pura coincidência, talvez, ou então apenas ilusão.

Às vezes tenho a sensação que tudo se resume a uma soma de ciclos. A motivação nasce, torna-se objectivo ou plano, consciente ou inconscientemente, vamos para campo, fazemos aquilo que consideramos o nosso melhor esforço possível, avaliamos e saboreamos/sofremos o resultado e partimos para o próximo. A dificuldade está em gerir os diferentes componentes de um ciclo ou mini ciclos que acontecem em simultâneo. É necessário fazer escolhas, definir prioridades, onde vale a pena investir ou não. Também se pode sincronizar tudo, criando uma interdependencia que faz com que as conquistas e falhanços num ciclo tenham repercussões nos restantes, tudo funciona ou fracassa em simultâneo.

Seguindo esta linha de pensamento, é normal que se passe por etapas semelhantes a ciclos anteriores, que agora vemos a uma nova luz, podendo ou não lidar de forma diferente. De tempos em tempos, será necessário regressar a pontos de origem ou pontos de viragem, locais que nos marcaram e influenciaram em determinado sentido, como se fosse uma nova oportunidade que precisamos para recomeçar.

terça-feira, 13 de março de 2012

Olá, tudo bem?

Esta é provavelmente uma das perguntas que mais se ouve ao longo do dia. A maioria das vezes quase que soa a retórica, pode servir para começar uma conversa, ou apenas como cumprimento automático. Às vezes tenho alguma dificuldade em perceber qual a situação que se aplica. Ao que parece é um habito transversal a várias culturas, como que uma formula de manifestar interesse ou simplesmente para quebrar gelo.


Quando há real interesse em saber como está a outra pessoa, normalmente, após um "tudo bem?", vêm perguntas mais direccionadas, a pessoa continua ali para ouvir a resposta e continuar a conversa.

A verdade é que a maioria das pessoas faz a pergunta e não está minimamente interessada na resposta, espera apenas um "bem, obrigado", "sim ta tudo" ou "tudo e contigo". Ou então, se formos mais mornos e sair um "mais ou menos" ou "vai indo" o efeito é exactamente o mesmo. Mas claro, o ideal é que a resposta seja positiva. Eu admito que preferia não fazer nem responder a essa pergunta, quando de facto não se justifica ou soa a oco. Aliás, às vezes fico desconfortável quando alguém pergunta e não sei se é esperada uma versão abreviada ou mais elaborada como resposta.
Percebi, por experiência, que nalgumas situações não vale muito a pena responder de forma sincera à pergunta, que chatice, na verdade queriam nos falar sobre outra coisa qualquer e ainda têm que ouvir primeiro algumas lamentações ou manifestações de contentamento ou então simplesmente não ouvem e cortam o assunto. Quando me parece esse o caso, opto por um entusiasmado "estou óptima, está um dia fantástico e é muito bom ver-te por aqui!" Podem acreditar, funciona bem.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Alerta Kony

O sucesso do vídeo foi tal, que provavelmente já ouviram falar dele, em menos de uma semana contou mais de 70 milhões de visualizações. O objectivo do vídeo é tornar o ugandês Joseph Kony famoso e visível de a levar a justiça o líder do Exercito de Resistência do Senhor acusado crimes de guerra e contra a humanidade praticados ao longo de mais de 20 anos.

O objectivo principal da organização Invisible Children (California) é mobilizar o maior número de pessoas de forma a que a sua causa se torne uma causa de interesse nacional que force a intervenção militar norte-americana para deter Kony. Entre interesses políticos e económicos, diferenças culturais, mobilização de massas e impacto real alguma coisa se espera que resulte, ao menos que não haja indiferença.  



 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Problemas psiquiátricos

O tema deste post esteve a marinar durante alguns dias. A controvérsia parece o prato do dia na ciência e no conhecimento em geral, para cada ideia que nos passa pela cabeça é quase certo que encontramos outras pessoas que a defendam e outras tantas que a refutem. Nem sempre há consenso e nem sempre é fácil separar evidencias puras de conclusões manipuladas.

Fala-se cada vez mais em doenças psiquiátricas, aparentemente tem-se verificado um aumento do numero de depressões e deprimidos, ansiedade, pânico e fobias. À parte do jornalismo sensacionalista, o aumento da procura de psicólogos e psiquiatras, bem como consumo de medicamentos põe eles prescritos tem aumentado quase exponencialmente. O que antigamente era um miúdo irrequieto, hoje talvez seja hiperactivo, um desamor ou desanimo poderá ser depressão e até os introvertidos já podem ser tratados. Eu reconheço que alguns estados são assunto sério e merecedores de atenção e tratamento clínico, mas também me parece que há muito tratamento e investimento farmacéutico completamente oportunista. A minha indignação poderia ficar por aqui, pois as pessoas são livres de comprar e tomar o que querem e acham melhor para si (embora a informação que lhes chega seja a maioria das vezes colocada a jeito), mas o problema é um pouco mais grave, tal como escreveu o jornalista Robert Whitaker no livro Anatomy of an Epidemic: Magic Bullets, Psychiatric Drugs, and the Astonishing Rise of Mental Illness in America (Crown 2010). O livro parte dos seguintes dados: 1987 1 em cada 184 americanos sofria de algum tipo de doença mental, em 2007 a taxa mais do que duplicou para 1 em cada 76 americanos. Curiosamente, no mesmo período houve um aumento considerável do uso de medicamentos psiquiátricos. Robert Whitaker queria averiguar se seria pura coincidência a incidência de doenças mentais e o do consumo de psicofarmacos terem aumentado significativamente no mesmo período ou se havia alguma ralação. A sua pesquisa levou-o a concluir que embora os medicação psiquiátrica possa ser efectiva num curto período de tempo, o seu uso continuado aumenta a probabilidade de desenvolver doenças crónicas, transformando um problema psicológico moderado numa incapacidade debilitante, sendo especialmente evidente e trágico em crianças. Segundo ele, este efeito verifica-se em todos os casos, desde alterações do estado de humor e ansiedade até a esquizofrenia. Alguns medicamentos podem ser benéficos numa fase inicial (não esquecendo que parte deles não são mais eficazes do que placebo), contudo há alterações irreversíveis a nível cerebral, que transformam pequenos distúrbios em condições de dependência de fármacos mais severas.

Do ponto de vista fisiológico parece-me bastante provável que estas observações tenham uma boa base de verdade e é fácil perceber quem sai a ganhar deste ciclo vicioso, contudo estou longe de ser especialista na área e a minha opinião vale o que vale. Não posso deixar de ficar apreensiva quando me parece que há um tratamento certo para tudo o que parece desviar-se do padrão (independentemente de quem decide qual o padrão normal) e pessoas com vontade de corrigir e tratar tudo e mais alguma coisa que não esteja de acordo com o "normal/ideal". É óbvio que há doenças psiquiátricas que requerem acompanhamento e tratamento, mas há muitos outros problemas que seriam melhor resolvidos se se desse margem/ajuda para as pessoas se conhecessem e aprendessem a lidar com os seus problemas em vez de esperar que um comprimido o faça.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Amigos

Ter amigos é relativamente fácil, ter bons amigos é um processo evolutivo sem um fim adquirido, sem compromisso real, apenas um pacto invisível. Com a fase do facebook, parece que todos temos muitos amigos, interessados nas fotos, nos estados, nas actualizações, nos aniversários ou em tudo o que mexe por lá, mas na verdade mais de 80% serão apenas conhecidos curiosos e a pequena parte que quer mesmo saber de nós, não o faz pelo facebook. A amizade é qualquer coisa de muito interessante, não há amigos iguais, mas há vários níveis de amizade, ninguém substitui ninguém, mas intuitivamente sabemos quais são as fronteiras, com quem podemos contar ou apenas juntar à festa.

Cada pessoa terá a sua definição de amizade. Para mim há os que gosto de rever em algumas circunstâncias e depois há os que fazem parte da mobília. Faz realmente sentido chamar amigo quando se dispensa formalidades, quando não é necessário um motivo para querer jantar ou combinar um café, quando podemos partilhar alegria, tristeza e tédio, quando o silencio não perturba, quando o olhar basta, quando é seguro perder a postura, quando podemos dizer o que realmente nos passa pela cabeça sem grandes restrições, quando nos encontramos depois de tanto tempo e é como se nos tivéssemos visto ontem.. É algo natural, é a pessoa que nos vem a cabeça quando estamos no pico e na vala, quando queremos partilhar o que quer que seja, com ou sem feedback, mas com a certeza de não haver julgamento.

Dizem que é provável termos mais de 30 "amigos" na década dos 20 anos. Aos 30 teremos 20, aos 40 teremos 10, e seremos sortudos se na velhice tivermos meia dúzia. De facto não é fácil. Criar laços requer tempo, paciência, compreensão, empatia e persistência de pelo menos dois lados. Há circunstâncias que facilitam a vida e promovem a aproximação das pessoas, há outras que põem a amizade á prova. Não é necessário estar em contacto permanente, não é necessário contar tudo ou fazer tudo em conjunto, apenas estar quando é preciso, saber o suficiente para compreender e fazer o essencial para marcar a diferença.

Fazer amigos é fácil, mantê-los requer alguma mestria. De tempos em tempos reencontro-me com alguns amigos e percebo que já não pertenço, que já não me pertencem. É uns sistema dinâmico que selecciona os melhores ou os que realmente precisamos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Era biónica

"Technology has always strived to match the incredible sophistication of the human body. Now electronics and hi-tech materials are replacing whole limbs and organs in a merger of machine and man."

in National Geographic

Desengane-se quem pensa que já está tudo inventado. Estamos no inicio de uma nova era, chama-se bionica (bionics). Resulta do casamento entre vida (bio) e electronica (onics) e nasceu (por volta de 1950) do estudo dos sistemas mecânicos capazes de mimetizar organismos vivos ou partes de organismos. As proteses não são propriamente novidade, mas tem feito progressos incríveis. À medida que os cientistas avançam na criação de membros prostéticos capazes de comunicar com a mente, reproduzem-se capacidades que até agora só se viam no corpo humano intacto. A perfeição da maquina aproxima-se do humano, há um maior controlo e funcionalidade e já não é só ao nível dos membros, mas de quase tudo passível de ser substituído.

Recomendo darem uma vista de olhos neste artigo da BBC.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Placebo

Placebo é uma substância inerte, sem propriedades farmacológicas, administrado a uma pessoa ou grupo de pessoas, como se tivesse propriedades terapêuticas. Normalmente é utilizado para testar eficácia de fármacos por comparação, podendo ser administrados na forma de comprimido (normalmente composto por açucares), injecção, liquido ou procedimento que não afecta directamente a doença a ser tratada. Contudo, apesar de não actuarem na doença, parece terem efeito em 1 em cada 3 doentes, resultando na alteração dos sintomas. A duração dos efeitos é variável e pode reflectir-se na melhoria do estado de saúde, bem como no aparecimento de efeitos secundários_expectation effects. Ou seja a pessoa que toma o placebo acaba por sentir aquilo que tinha expectativa de sentir, para o bem e para o mal, obviamente que a expectativa varia consoante a situação e a meu ver tem um potencial fantástico (se calhar nem todas as pessoas deviam ler a bula dos medicamentos, com tanto efeito adverso descrito não há como não ficar sugestionado). Por outro lado, o efeito placebo também é apontado como responsável pelos créditos de tratamentos sem eficácia comprovada clinicamente (acumpultura, ultra-sons, cirurgias espirituais..)
 Provavelmente haverá pessoas/doenças mais susceptíveis ao efeito placebo.

Nos últimos tempos vários estudos confirmaram a eficácia de tratamentos placebo em quase todas as áreas da medicina, nomeadamente no alivio da dor, depressão, ansiedade, doença de Parkinson, doenças inflamatórias e até no cancro. O efeito placebo deve-se não só à consciência de que se está a tomar um medicamento, mas também à associação subconsciente entre a recuperação e a experiência de estar a ser tratada, por exemplo o facto de se sentir melhor só porque foi visto/ouvido por um médico.

Vale a pena ver este vídeo sobre o efeito placebo. É incrível como manipulações tão simples da nossa percepção tem efeitos tão significativos. Por outro lado acredito uma alguns dos "medicamentos" que a industria farmaceutica ou outras anunciam têm uma boa dose de placebo, o que é compreensível, seria parvo desperdiçar uma formula tão eficaz.