quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Cativar

Ontem ouvia uma conversa numa radio qualquer sobre os livros do plano nacional de leitura enquanto olhava impacientemente para o vermelho do semáforo. Não sei o que eles lêem hoje em dia, lembro-me vagamente de alguns que eu li, como é o caso d' O principezinho. Tal como como a maioria dos livros infantis, ou talvez não tanto infantis, a história que se quer contar não se resume apenas ao que está escrito, mas conta com a imaginação própria de cada um para lhe dar o sabor que quiser. Não me lembro se na altura percebi o que lia, mas de facto vale a pena voltar a ler! Deixo aqui um pequena parte de um capitulo, esta não é bem uma versão oficial, tem apenas algumas partes..


O principezinho


... Julgava-me muito rico por ter uma flor única no mundo e, afinal só tenho uma rosa vulgar...

Foi então que apareceu uma raposa .

- Olá, bom dia! disse a raposa.

- Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o principezinho...

- Anda brincar comigo - pediu o principezinho. Estou tão triste...

- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa um pouco esquecida, diz a raposa. Significa criar laços...

- Criar laços?

- Exactamente, diz a raposa, Tu para mim não passas de um rapazinho, igual a cem mil outros. Eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...

- Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? ... não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti...

- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não tem tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não tem amigos. Se queres um amigo, cativa-me!

E o que é preciso fazer? - Perguntou o principezinho.

- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto...

Se vieres sempre ás quatro horas, ás três já eu começo a ser feliz...

Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:

- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar!

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então não ganhaste nada com isso!

- Ganhei, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois acrescentou:

- Anda vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. 


Antoine de Saint-Exupéry in O principezinho

 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nostalgia

Definitivamente não percebo a história da nostalgia. Inicialmente era considerada doença, o nome deriva do grego "nostos"-voltar e "algos"-dor, indicando o sofrimento proveniente desejo de voltar ao local de origem. As primeiras observações deste sentimento foram registadas em viajantes e militares. Mais tarde ganhou um sentido mais positivo, sendo considerada apaziguadora, acredita-se que recordar tempos passados melhora o humor, aumenta a auto-estima e fortalece ligações sociais trazendo algum sentido à vida. A BBC fez um artigo interessante sobre o assunto, no qual descreve a opinião de Mr Routledge e outros entendidos em nostalgia. Eles defendem que a nostalgia nos permite recordar experiências marcantes relembrando-nos o sentido e o propósito da vida, o nosso valor, as boas relações que desenvolvemos e momentos em que fomos felizes. Teremos tendência para ficar mais nostálgicos em situações menos favoráveis, quando nos sentimos mais desamparados, sendo que o acto de recordar tem como função contrariar os sentimentos negativos. Há varias situações que nos podem deixar nostálgicos, desde o contacto com pessoas ou objectos de outros tempos, como musicas, acontecimentos, palavras, etc.  Claro que se passarmos demasiado tempo presos ao passado corremos o risco de passar ao lado das oportunidades do presente e do futuro. Também aqui se aplica a noção de equilíbrio.

Da minha experiência ainda não consegui perceber se a nostalgia tem um efeito positivo ou negativo. Nalgumas circunstâncias é apenas um pouco inquietante. Tenho alguma dificuldade em me livrar de certas coisas, gosto de guardar objectos (maioria das vezes papelada) que me recordem de acontecimentos marcantes, não que lhes faça alguma coisa, às vezes ficam só num canto até que a necessidade de arrumar e me livrar deles me faça deitá-los fora. Parece que com o tempo a relevância e intensidade das emoções diminui, logo já não faz sentido guardar eternamente o que deixou de ter utilidade. Por outro lado, guardar dá-me alguma segurança, a certeza de que mesmo que a memória me traia haverá sempre um gatilho que me faça chegar lá. Não costumo procurar deliberadamente recordações, normalmente encontro-as durante as arrumações, algumas são agradáveis, outras só me relembram a ingenuidade de outros tempos. Se calhar ainda não estou na fase em que a nostalgia faz coisas giras. Mais estranho é quando tenho que apagar emails ou mensagens, a plena consciência de que não voltarão a ser úteis ou trarão algo de volta, mas por alguma razão preferia guardar. Da minha experiência, também sei que quando apago simplesmente não me sinto menos inteira.

Perder a memória é provavelmente uma das coisas mais assustadoras para a maioria das pessoas. Ficar nostálgico é quase inevitável em algumas circunstâncias, mas não nos devemos perder demasiado nas recordações, é bom constatar que já tivemos menos preocupações e mais alegrias, que já passamos por tempos difíceis e sobrevivemos, que fique a certeza que daí a uns tempos vamos recordar esse preciso momento e recordar que foi mais um passo, às vezes é preciso deixar algumas coisas para trás para chegarmos ao que procuramos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Miragem ou liberdade

Upside-down bird. National Geographic

Ultimamente tenho tido algum tempo livre, mais do que habitual. Tempo livre por não ter obrigação externa de fazer nada com ele, por ter a liberdade de o ocupar com o que bem me apetecer, nem que seja para questionar o nível de liberdade a que me permito nesse tempo livre.

Os seres humanos são considerados animais sociais com inteligência avançada capazes de fazer escolhas e guiar o seu comportamento de forma complexa. Para além da influencia das circunstâncias, o comportamento humano é modelado por influencias internas, tais como expectativas, motivações e ideias de si. Desta forma, temos a capacidade de controlar o nosso comportamento de acordo com objectivos que queremos atingir mediante as oportunidades e obstáculos impostos pelo mundo social. A liberdade reside na capacidade de resistir a influencias especificas tais como pressões externas ou impulsos internos  na tomada de decisões. Não vivemos isolados, por isso é óbvio que as nossas decisões e o nosso comportamento têm que ter em conta o contexto social, a liberdade dos outros e o comprometimento entre esforço/trabalho e beneficio. Somos convidados a ceder a determinados impulsos com vista a sermos aceites pela sociedade, frequentemente confunde-se liberdade com a autonomia para imitar as massas. Todos somos "livres", mas todos esperam que nos comportemos de acordo com o padrão, ideia do aceitável e ideal que mais ou menos impomos a nós mesmos com vista à aprovação, ao enquadramento, ao sentimento de pertença. Em certa medida somos escravos de necessidades e objectivos, que, pensamos nós, somos livres para seguir ou não. É bom ter sonhos e objectivos no horizonte, o mau é quando não são os nossos ou o que melhor nos servem. Não sei onde fica o ideal, mas penso que se não nos permitir ser autênticos nas maneiras e nas escolhas não nos trará liberdade suficiente para sermos felizes.


Pelo caminho encontrei algumas reflexões interessantes sobre o assunto. Tomei a liberdade de "copiar" para aqui:

"Se examinarmos um indivíduo isolado sem o relacionarmos com o que o rodeia, todos os seus actos nos parecem livres. Mas se virmos a mínima relação entre esse homem e quanto o rodeia, as suas relações com o homem que lhe fala, com o livro que lê, com o trabalho que está fazendo, inclusivamente com o ar que respira ou com a luz que banha os objectos à sua roda, verificamos que cada uma dessas circunstâncias exerce influência sobre ele e guia, pelo menos, uma parte da sua actividade. E quantas mais influências destas observamos mais diminui a ideia que fazemos da sua liberdade, aumentando a ideia que fazemos da necessidade a que está submetido." Leon Tolstoi, in 'Guerra e Paz'

 "É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça. Isto é tão evidente que receio ofender-vos. Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando. Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada. É ser senhor total de si quando se é senhoreado. É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada. É ser-se o mesmo, sendo-se outro. É ser-se sem se ser. Assim, pois, tudo é complicado outra vez.Vergílio Ferreira, in 'Nítido Nulo'


"A vossa vontade não é livre mas as vossas acções o são. Tendes a liberdade de fazer quando tendes o poder de fazer." Voltaire, in 'Dicionário Filosófico'

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Amadurecer ideias

Há ideias que precisam de amadurecer antes de ser completamente entendidas. Quando nos deparamos com um conceito novo, mais complexo, eventualmente diferente daquilo a que estamos habituados precisamos de algum tempo para "digerir" e assimilar a informação. Nem sempre a noção com que ficamos de inicio se revela a mais fiel ou adequada, nada como dormir sobre o assunto, para termos uma visão mais clara. Com os sentimentos passa-se a mesma coisa.

Costuma-se dizer que a primeira impressão é decisiva, mas embora comece sempre por aí, cada novo contacto é uma nova oportunidade de observar, confirmar, completar ou corrigir a ideia que temos de alguém. É automático e a maioria das vezes inconsciente, como se estivéssemosem modo "update" constante. Decidimos se gostamos ou não, se nos identificamos, se a companhia é agradável ou nos deixa desconfortáveis, se nos acrescenta ou entretém. Decidimos se seria útil continuar a interacção ou se é preferível evitar. A maioria das vezes não fazemos nada quanto a isso, fica apenas arquivado para posterior "consulta". Eventualmente percebemos que apreciamos a companhia e começamos a organizar a agenda de forma a incluir planos que proporcionem interacção, queremos repetir eventos que correram bem e experimentar novos contextos. Estamos na fase de amadurecer a ideia. O resultado não depende inteiramente da observação simples, mas passa a basear-se e alimentar-se do feedback. Temos um conjunto de ideias e teorias que precisamos de validar ou refutar. Enquanto se assimila nova informação há um confronto com as noções pré formadas. Há sempre margem para a imaginação e a interpretação de acontecimentos enviesada, convém não perder completamente a lógica.

Depois do processo de amadurecimento analisam-se os resultados, balanço positivo ou negativo, pensasse no que se poderá seguir. Nesta altura já devemos ter uma ideia mais clara do que vimos, do que sentimos, do que queremos. Não se pode dizer que a fase de amadurecimento tem um fim, é um processo que estará mais ou menos presente ao longo do percurso. Não é algo que consigamos fazer a distancia, é preciso a interacção, fazer as perguntas e obter as respostas. Não devemos ter a pretensão de querer controlar ou seguir um plano, continuo a achar que a ausência de plano pode ser o melhor plano.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Efeito dominó

Quando me falaram do plano pareceu-me bem, mas depois de feito pare-me ainda melhor. Começou com alguém a querer doar um rim a um desconhecido e no final contaram-se 30 transplantes realizados em 17 hospitais de 11 estados dos E.U.A.

Há várias doenças que podem resultar em insuficiência renal e consequente necessidade de hemodiálise ou preferencialmente transplante. A quantidade de dadores e dificuldade em encontrar compatibilidade fazem com que a lista de espera varie entre 5 a 10 anos, na maioria das vezes tempo demais. Nalguns casos há familiares/amigos interessados em doar um rim ao doente, mas mesmo dentro da família, podem não ser compatíveis. A oportunidade surgiu quando alguém decidiu doar um rim a um desconhecido. Este acto, juntamente com o cruzamento de informação médica entre doentes e possíveis dadores permitiu que se iniciasse uma cadeia de transplantes de rim com efeito dominó, como representado na figura (retirada deste site).

 
http://www.uclahealth.org/images/news/TransplantIllustration-2.jpg

 A cadeia da dadores tem como objectivo aumentar o numero de dadores, permitindo que as pessoas que quisessem doar um órgão a um familiar ou amigo mas não fossem compatíveis, pudessem doar a outro doente em troca de um órgão compatível para o seu familiar. Inicialmente precisa de um dador voluntário, mas a partir daí propaga-se em efeito dominó até ao ponto em que o ultimo receptor não tenha ninguém conhecido que possa doar um órgão em troca, por razões médicas por exemplo, terminando assim  a cadeia. Pelo meio, é necessário o cruzamento de informação para encontrar possíveis receptores e dadores de forma a permitir o maior numero de transplantes. Neste caso foram 30 transplantes, com 60 pessoas envolvidas, tudo isto em alguns meses. Este novo modelo de "gestão" de órgãos, aliado a novas técnicas de transplante, menos invasivas, permite diminuir drasticamente o tempo necessário para encontrar um dador compatível.

O principio de funcionamento do plano é simples e os benefícios óbvios. Hajas pessoas capazes de iniciar cadeias como esta, quer pela parte do planeamento e execução quer pela doação de órgãos, neste caso, um rim.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Matemática para horas críticas

O argumento não é descabido e pode até ter alguma utilidade. Em Outubro de 2008 (ok, já foi há uns tempos, mas infelizmente só descobri ontem) a Google lançou a opção mail googles, cuja função é apenas impedir que se enviem emails disparatados em alturas mais sensíveis, nomeadamente aqueles em que a probabilidade de nos virmos a arrepender é mais elevada. Por defeito, esta opção fica activa entre as 22 e 4 da manha de sexta e sábado, mas pode ser configurada consoante os hábitos de cada um. Quando tentamos enviar um e-mail a essas horas apresenta um conjunto de contas simples que temos de responder num período limitado de tempo para garantir que estamos a conseguir raciocinar minimamente e é seguro enviar o e-mail.

Costumo pensar que temos vários filtros através dos quais uma ideia tem de passar antes de ser expressa, pelo caminho pesamos prós e contras da acção de forma a atingir o efeito pretendido com o mínimo de danos possíveis. Mas lá está, nalgumas alturas os filtros tiram férias e quando damos por isso já foi, resta reconhecer os estragos e elaborar plano de minimização de danos e recuperação. É curiosa a escolha das horas em que supostamente estamos mais susceptíveis a dizer o que não devemos, mas têm a sua lógica, quer pelo factor alcool, como por ser a altura em que há uma quebra na rotina e temos mais tempo livre para pensar e concretizar planos, mesmo que idiotas.

Um outro ponto interessante trata-se da escolha de exercícios aritméticos para prevenir o envio de emails emocionais. Para além das contas constituírem uma barreira para estados de embriaguez por exemplo, em que as pessoas ficam com tendência para as revelações impulsivas, alguns estudos demonstram que realizar tarefas cognitivas diminui a intensidade de respostas emocionais negativas e eventualmente ajuda a colocar as ideias numa perspectiva mais neutra. Ou seja mesmo que as pessoas façam as contas no tempo previsto, o facto de se terem concentrado noutra tarefa pode fazer com que se sentam menos tentadas a enviar o email e a fazer outra abordagem à situação.

Tal como eu já disse algures, o organismo tem capacidades e recursos limitados, focar a atenção noutro assunto pode ser uma manobra eficaz de distracção. Há uns anos atrás uma professora percebeu o nosso pânico ao olhar para um livro de 4 kg (ela não se limitou a apresentar o livro e os autores, forneceu-nos todo o tipo de informação relativo às dimensões) que teríamos que transformar no nosso melhor amigo durante 6 meses e calmamente disse que para além dos benefícios directos relacionados com a aprendizagem, se trabalhássemos a todo o gás, não teríamos tempo para deprimir, logo não tínhamos nada a temer. Pouco mais tarde percebi, que a trabalhar aquele ritmo, não só não deprimia, como não tinha tempo para grandes lamechices ou preocupações secundárias. Ela não só tinha razão como nos tinha dado o antídoto para um mal que aflige uma boa parte da população. Obviamente que têm efeitos secundários a curto e a longo prazo, será sempre um equilíbrio entre ganhos e perdas.

Não sou apologista de andar constantemente atafulhada em trabalho ou outras distracções que desviem completamente da componente emocional, mas a abordagem da Google parece-me interessante, talvez devessem pensar em aplicar um sistema semelhante às mensagens por telemóvel.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Perigo da história única



The single story creates stereotypes, and the problem with stereotypes is not that they are untrue, but that they are incomplete. They make one story become the only story. — Chimamanda Ngozi Adichie

A ideia não é nova nem novidade, mas continua a falhar muitas vezes na interpretação que fazemos da informação que nos chega. Tal como Chimamanda refere torna-se um problema sério quando a única história que chega a um conjunto de pessoas é particularmente focada em aspectos negativos e limitações. Se não acreditam experiementem perguntar a alguém o que acha do estado do país, das pessoas em geral, da maneira de ser, do seu trabalho e empenho. Já nem me refiro à realidade dos países Africanos..Temos tendência para catalogar tudo e quanto menos sabemos do que se passa maior a margem para a especulação e generalização, sendo que nem nos passa pela cabeça que a ideia ou história que conhecemos pode não ser, de todo, a única, a mais representativa ou fiel à situação.

Os meios de informação assumem obviamente um papel central neste ciclo, as histórias são seleccionadas, contadas da forma e na altura mais conveniente e muitas vezes quem as recebe nem quer ir mais além. Para além da nossa capacidade/vontade de estereotipagem há a manipulação da opinião pública, das reacções e intervenções.

Basear a nossa opinião apenas numa história é ignorância, cobardia e claramente injustiça. É preciso mais do que uma versão, mais do que uma perspectiva para que a nossa visão se aproxime o mais possível do que realmente acontece.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Post semi lamechas

No dia em que se celebra o amor, tenho de expressar a minha admiração pelos que o entendem e o cultivam, pois está mais do que provado não ser tarefa fácil, tal como Fernando Pessoa tão bem soube dizer.


"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma

Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
 
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Silêncio

retirada daqui
 "True friendship is sitting together in silence and feeling like it was the best conversation you've ever had"  

É incrível como alguns silêncios podem ser tão constrangedores enquanto outros sabem tão bem. Leva o seu tempo e dedicação, mas é inegável que a capacidade de estar em silencio sem se sentir necessidade de preencher o vazio é sinal de que se chegou a um novo patamar. Pode até nem ser na mesma altura, pode até passar despercebido, mas é um claro indicador que a ansiedade que povoa a nossa mente quando estamos perante alguém mais ou menos conhecido que nos faz imaginar mil e um temas de conversa para dar continuidade e alguma animação à interacção deu lugar a uma tranquilidade e conforto de quem sabe que apenas a presença basta. 


Não é estranho estar em silencio (sem televisão, radio ou outra fonte de distracção) na mesma divisão que os pais, irmãos ou familiares próximos, eventualmente descobrimos que com alguns amigos também funciona e começa a ter um gosto diferente. Com o desenvolvimento da tecnologia a que assistimos nos últimos tempos parece que passamos a viver na era do som e por que não da imagem constante. O que não falta são alternativas para entreter e distrair. Sou apreciadora de boa conversa, de falar de tudo e de nada ou simplesmente ficar em silencio. Há coisas que não precisamos de contar para perceber que a outra pessoa, de alguma forma, nos compreende e está ali. Há conversas que aproximam, à medida que nos expomos e nos damos a conhecer, à medida que baixamos a guarda conquista-se intimidade conquista-se a liberdade de poder ficar em silencio. Deixamos de nos focar apenas nas palavras e os olhares, o sorriso ou outras expressões ou gestos começam a falar por si. Não que não estejam também presentes nas interacções fora do contexto "amigável", mas não assumem a mesma dimensão.

Estar em silêncio não significa que não haja temas de conversa, significa que a presença da pessoa é suficientemente confortante para não querer adicionar mais nada. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

World Press photo 2011

Há momentos irrepetiveis e há pessoas que têm a sorte de para além de estar lá conseguirem captar uma boa imagem do acontecimento. As imagens transmitem mais do que aquilo que eu seria capaz de dizer, aqui ficam.



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Uma questão de vida ou morte

A noticia não é nova e o caso certamente não é único, é uma questão de vida ou de morte em que para ambas as situações a dependência de terceiros é total: 'Locked-in syndrome' man seeks assisted suicide ruling.
O termo eutanásia refere-se ao acto de por fim à vida de alguém gravemente doente com o objectivo de aliviar o seu sofrimento. Normalmente as pessoas que procuram esta saída, possuem uma doença incurável e encontram-se em estado muito debilitado, normalmente irreversível. Existem ainda outras situações, em que os doentes não estão conscientes para manifestar essa vontade, podendo ser defendida pelos seus familiares.

A eutanásia ou morte assistida pode depender de uma acção, como a administração de um fármaco ou da ausência de acção ou procedimentos essenciais para manter a vida. Na maioria dos países os profissionais de saúde não estão legalmente autorizados a por termo a vida de um doente, voluntária e intencionalmente, a pedido do doente ou familiares. Contudo, a morte assistida é legal em países como a Suíça, Holanda, Bélgica e Luxemburgo e nalguns estados da América. Com excepção da Suíça esta prática está restrita a cidadãos residentes com doenças incuráveis após realizados vários testes médicos e aconselhamento. A Suíça possui uma lei mais liberal neste sentido, tornando a morte ou suicídio assistido legal desde que ninguém beneficie com a morte da pessoa em questão e a decisão tenha sido tomada em plena consciência, como é o caso daquilo que já é considerado turismo suicida, pelo menos na Dignitas.

Há muita controvérsia em torno do tema. Se por um lado se afirma que o acesso a uma "morte digna" deveria ser um direito humano, há quem defenda que a decisão nunca parte apenas da pessoa doente, mas é influenciada pelos interesses de familiares, médicos e da sociedade. Havendo outros interesses envolvidos, é fácil imaginar as várias formas de abuso que daí poderiam resultar. Há quem diga que se conseguirmos proporcionar melhores cuidados paliativo aos doentes em fase terminal não haverá necessidade de querer por termo a vida ou de considerar a eutanásia como a melhor saída possível.

Não consigo imaginar o que se sente numa situação como a do Mr Nicklinson, ou em fase terminal de uma doença oncológica ou degenerativa ou enquanto familiar. Tenho muito respeito pelo valor da vida, mas também pela dignidade com que merece ser vivida. Há muita coisa que escapa ao nosso controlo e podemos encarar isso de muitas formas, mas quando a doença atinge este patamar já não sei o que é que se protege, se a vida, se o sofrimento de alguém. É possivelmente um dos assuntos mais difíceis de conseguir um consenso ou legislar de forma justa e correcta, mas a partir do momento em que a medicina avançou de tal forma que permite suportar a vida das pessoas mesmo nas condições mais criticas acho que se justifica repensar o juramento de Hipócrates "A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda".
Penalizar a eutanásia quando activamente provocada por um médico mas não quando praticada pelo doente (automadicação) foi uma forma de alguns países encontrarem uma saída, mas aqui escapa uma boa parte dos doentes, que ainda mais vulneráveis, jamais conseguiriam executar tal objectivo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Quando até o stress pode ajudar

Um dia destes descobri que beber café (ou melhor, beber vários cafés no mesmo dia) me deixa stressada. O mesmo stress que me deixa os ombros tensos é muitas vezes o único gatilho que funciona na altura em que tenho mesmo de ser produtiva em alguma coisa de jeito.

Parece que o stress passou a ser moda nos últimos tempos, toda a gente o reconhece, o sente, sentiu ou tenta fugir dele. A sensação a que chamamos stress não é uma invenção recente, é uma reacção primária ao perigo e está presente em todos os animais, fica algures entre o nervosismo e a ansiedade ou é mesmo uma mistura de ambos o pode ser sentido em vários níveis de intensidade.

Tal como qualquer máquina eficiente o nosso organismo adapta os gastos de energia consoante as necessidades, há muitos sistemas a funcionar, alguns são prioritários nalguns momentos e não noutros. Numa situação de perigo ou desafio o nosso corpo entra em fase de alerta preparando-nos para a luta ou fuga. O ritmo cardíaco acelera, o metabolismo de energia altera-se, os músculos ficam tensos e prontos para a acção enquanto que actividades não essenciais à resposta ficam em stand by. Paralelamente a este circuito existe um outro cuja função é reestabelecer o equilíbrio, relaxando e restaurando o homeostasia do organismo.

O stress está presente nas mais variadas situações principalmente quando estamos perante situações novas e temos receio de não estar à altura. Nalguns casos sentimos-nos de tal forma stressados que fica mais difícil concentrar-nos no que realmente importa, prejudicando a nossa reacção. Quem já fez algum tipo de apresentação em publico, especialmente se estiver a ser avaliada, saberá a que me refiro. Por outro lado, o stress entusiasma, desafia e prepara-nos para a tarefa a que nos propomos ou somos sujeitos. Nalgumas situações pode ser mesmo um estimulo adicional e fonte de prazer, como por exemplo na pratica de desporto.
A intensidade e frequência com que nos sentimos stressados são factores determinantes para o resultado que daí advém. Se por um lado nos desafia a superar e estimula a criatividade, quando estamos expostos por longos períodos de tempo leva-nos à exaustão e à descompensação fisiológica. Está provado que muitas horas de trabalho associadas a elevados níveis de stress aumentam a probabilidade de desenvolver problemas cardíacos. É necessário fazer um bom uso da maquina e saber relaxar e recarregar energias quando o corpo assim o pede. Mas penso que é impossível eliminar o efeito do stress da nossa rotina sem fazer um abrandamento excessivo ou entrar num modo letárgico, afinal é o desafio conduz à excelência e à mudança. A partir do momento em que nos propomos a fazer alguma coisa, estamos a desafiar a nosso engenho e capacidade de mobilizar a energia suficiente para o fazer, estamos a colocar-nos sob stress, mas se aliarmos a este estado alguma paixão por aquilo que se faz e bons tempos para descontrair o resultado provavelmente será positivo. Ao contrario do que muita gente pensa, ficar sem trabalho, sem preocupações ou metas a curto prazo (i.e. eliminar todas as fontes directas de stress) não é a melhor forma de relaxar, mas sim de entrar num vazio de motivação e apatia para com o mundo. Só somos verdadeiramente capazes de apreciar tempos livres quando andamos minimamente ocupados.  O nosso corpo foi feito para lidar com o stress, é preciso é saber tirar o melhor partido dele.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ideia do que somos

Normalmente ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos. Contudo, aquilo que somos é mais do que aquilo que nós vemos e sabemos, a perspectiva das pessoas em redor pode revelar coisas importantes a nosso respeito. A percepção que temos sobre a nossa própria personalidade, embora muitas vezes acertada, pode deixar de fora pontos importantes, quer por falta de informação ou distorções, motivadas, da auto-percepção. Este factor será mais importante em aspectos melhor ou pior aceites por nós e pela sociedade em que nos inserimos.

O professor Bill Swann da Universidade do Texas tem vindo a publicar vários trabalhos sobre a teoria da confirmação. Esta teoria defende que as pessoas procuram ser conhecidas e entendidas pelos outros de acordo com a maneira como se vêem a si mesmas ou daquilo que acreditam ser. Ou seja as pessoas sentem-se mais confortáveis quando são vistas de forma consistente com a sua auto-imagem. Este efeito funciona bem para os indivíduos com elevada auto-estima, mas pode representar um loop negativo para os que têm uma visão mais negativa de si mesmos, levando-os a procurar pessoas que os vejam da mesma forma. As pessoas que não gostam de si, se consideram inúteis ou incompetentes, em certa medida sentem-se mais confortáveis com pessoas que também as vêem dessa forma. Esta consistência transmite sensação de confiança e domínio da situação, pois torna-se mais fácil prever a reacção e comportamento dos outros ao mesmo tempo que fica com a sensação de auto-conhecimento e auto controlo. O professor Swann vai mais longe ao afirmar que pessoas com visão negativa de si mesmo têm preferência por avaliações negativas e parceiros que os tenham em baixa consideração (Why people self-verify).


O conceito por detrás desta teoria é algo assustador mas tem alguma lógica. Mais uma vez a necessidade de controlo e protecção nas interacções impede a saída da zona conforto e a exploração novas perspectivas, alimentando as visões e ideias pré-concebidas, mesmo que distorcidas.  Parece-me claro que a melhor maneira de mudar a forma como os outros nos vêem é ser e acreditar nessa mudança, tudo o resto virá por arrasto.  

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O lado amargo do açúcar

Na mesma altura em que não se fala de outra coisa a não ser da crise e suas consequências, preocupações mais doces também são postas na mesa. O Sol de hoje alerta para um numero crescente de doentes a recorrerem ao centros de saúde devido a complicações por falta de medicamentos. A situação era previsível, rendimentos baixos e mais despesas teria que levar ao corte na aquisição de alguns dos bens habituais, neste caso calha mesmo ao corte nas despesas na farmácia. As consequências, essas é que se calhar vão ser mais graves do que o esperado, pois como a noticia também refere, poupar em alguns remédios é gastar mais em serviços de saúde. Avizinha-se um ciclo vicioso, mas não sabendo eu a solução para o problema, não me vou alongar neste assunto. O que eu queria falar mesmo é de açúcar!

A preocupação não é recente e dizem eles que o açúcar é tóxico e parece que cada vez há mais evidencias da sua importância enquanto factor de risco para o desenvolvimento várias doenças. Já dizia o meu professor de farmacologia que a única diferença entre um medicamento e um veneno é apenas a dose, pois até a água, sendo essencial à vida pode ser tóxica em elevadas quantidades.  O caso do açúcar não é excepção, embora haja diferentes tipos/fontes de açúcar trata-se de um nutriente de excelência para a produção de energia no nosso organismo, contudo quando a quantidade é maior do que necessário ou mesmo maior do que a nossa capacidade de metabolizar ou eliminar só poderia fazer asneira. É precisamente isso que os estudos clamam, a ponto de ser colocado ao nível do álcool e do tabaco no que diz respeito aos estragos que pode causar.

O consumo de açúcar tornou-se um problema após a industrialização, principalmente no que diz respeito à produção de alimentos processados, não esquecer que o açúcar é uma forma barata de alterar o sabor dos alimentos tornando-os mais apetitosos. Normalmente não se come açúcar às colheres, mas há uma tendência para encontrar grandes quantidades de açúcar em quase tudo. É como se houvesse necessidade de disfarçar o sabor verdadeiro dos ingredientes, às tantas nem temos noção do seu sabor, apenas nos sabe a doce. Eu acho escandaloso que os níveis de açucares simples (ou seja açúcar directo e não dos cereais em si) da maioria dos cereais de pequeno almoço rondem os 40g por 100g de produto, já para não falar dos cerca de 35g que consumimos em cada lata de refrigerante, o equivalente a 4 pacotinhos de açúcar.

Os primeiros sinais de alerta surgiram na América. O sedentarismo associado aos hábitos alimentares modernos fizeram disparar o numero de pessoas com excesso de peso e obesas, não apenas entres os adultos, mas cada vez mais entre as crianças. Como era de esperar o numero e gravidade de doenças cardiovasculares entre outras acompanharam esta tendência. Actualmente o problema já não é exclusivo da América e também em Portugal verificamos esta tendência. Não se trata apenas de uma escolha, alimentar-se de forma mais ou menos saúdavel, ser mais ou menos gordinho, mas sim de um problema de saúde publica. Já se fala em colocar taxas na utilização de açúcar, tal como se fez no sal, é pena que essa seja a a medida preferida para alertar as pessoas para a necessidade de terem mais atenção àquilo que comem, mas se for uma medida eficaz na redução do consumo de açúcar e prevenção de doenças sou completamente a favor.

A determinada altura da vida, os doentes tornam-se verdadeiras bomba relógio, tal é o equilibrio (ou desequilibrio) entre a medicação e o seu estado de saúde, o que faz com que a ausência de um medicamento especifico os possa descompensar completamente. O que não pode ser esquecido é que uma boa parte dos nossos problemas de saúde são resultado de escolhas repetidas ao longo da vida. Os maços de tabaco dizem que fumar mata e não é por isso que deixa de haver fumadores, já toda a gente sabe que o álcool e o sal fazem mal, falta adicionar o açúcar à lista. Não se trata de um complexo com o tamanho das ancas, mas sim da saúde de toda a maquinaria. Tal como dizia o outro é tudo uma questão de quantidade.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Nós e a morte

O que farias se soubesses que ias morrer amanha? É do conhecimento geral que todos vamos morrer, não por falta de tentativas em encontrar o elixir da vida eterna, mas por ser uma condição básica da vida e da nossa existência. Embora esta seja uma das pouca garantias que temos desde o nosso nascimento, a maioria de nós passa uma boa parte do tempo a fingir que acredita que viverá para sempre. É simplesmente desconfortável pensar que eventualmente o nosso tempo vai chegar ao fim, tendemos a pensar numa vida até aos 80/90 na melhor das hipóteses, mas todos sabemos que pode ser mais cedo ou mais tarde.

Na era da genética, há muito que se fala na analise do genoma como forma de identificar genes associados ao desenvolvimentos de determinadas doenças e ou outros marcadores preditivos da esperança de vida do individuo, como refere este artigo. Para já esta análise já é feita para um conjunto de genes específicos relacionados com algumas doenças de forma a ajudar no diagnóstico, prognóstico e tratamento de doenças como o cancro por exemplo. Mas a ideia da industria é tornar a analise do genoma suficientemente simples, rápida e barata para que todas as pessoas possam ler o seu genoma, com as implicações que uma boa ou má interpretação poderiam ter. A verdade é que actualmente, apesar de já podermos obter o genoma de forma mais ou menos simples ainda não sabemos o suficiente para o interpretar de forma clara e segura, na maioria dos casos apenas sabemos que determinados genes nos conferem alguma probabilidade de desenvolver uma dada doença. Tendo em conta a complexidade da maioria das doenças e a sua origem multifactorial no final poucas certezas nos dá. O mesmo se aplica à esperança de vida, podemos olhar para os nossos antepassados e calcular as probabilidades mas pouco mais.

A morte é algo positivo e essencial uma vez que nos confronta com a existência de um numero limitado de dias para atingir os nossos objectivos. Se vivêssemos para sempre provavelmente não teríamos tanta motivação para concretizar os nossos projectos que continuariam a ser adiados por tempo indeterminado, pois teríamos a noção de que disponhamos de todo o tempo do mundo para o fazer.

À medida que envelhecemos e somos confrontados com determinadas experiências a nossa noção de finitude vai-se alterando mas parece que só quando estamos perto do fim é que conseguimos fazer uma analise mais realista daquilo que eram os nossos objectivos e daquilo que fazemos com o tempo de que dispomos para os alcançar. Uma enfermeira dos cuidados paleativos, habituada a acompanhar os últimos dias de existência dos seus doentes registou os principais arrependimentos que estes expressavam e relata-os no livroThe top five regrets of the dying. Segundo Bronnie Ware, quando questionados sobre o que mais se arrependiam ou que que teriam feito de forma diferente caso tivessem oportunidade, há temas comuns que as pessoas invariavelmente repetiam, entre os quais:  

1. I wish I'd had the courage to live a life true to myself, not the life others expected of me.
2. I wish I hadn't worked so hard.
3. I wish I'd had the courage to express my feelings.
4. I wish I had stayed in touch with my friends.
5. I wish that I had let myself be happier. 

Não quis fazer a tradução para não correr os risco de lhes alterar o sentido, mas penso que são claros, escandalosamente simples e ao que parece sentimentos tão comuns na recta final dos nossos dias. Por outro lado, não é preciso estar em morte eminente para perceber que alguns destes arrependimentos já são actuais. 

Não sei até que ponto saber a esperança de vida com alguma precisão através de uma analise genetica me ajudaria a por os planos mais atempadamente, não sei quanto tempo resta e nem me quero preocupar muito com isso, mas gostava de poder viver plenamente o que me vai na alma. Certamente que também vou ter uma lista de arrependimentos, mas queria que não fosse com os tópicos que a senhora Ware diz serem tão frequentes.