domingo, 29 de abril de 2012

Poder da musica


Nos dias que correm arrisco-me a dizer que toda a gente tem algum contacto com algum tipo de musica. Não só musica comercial como a conhecemos, mas todo o tipo de cantorias características das várias culturas. Quem gosta de ouvir, certamente já se apercebeu daquilo que os cientistas têm vindo a dizer: a musica é capaz de proporcionar sentimentos de prazer, alegria, serenidade, melancolia ou excitamento, só para mencionar alguns. É uma forma de expressão e move multidões. Todos temos alguma ou algumas que gostamos em particular, que ouvimos para nos animar, para distrair, para pensar ou para ficar simplesmente a ouvir. Hoje em dia temos acesso facilitado á musica, desde as imortais às mais irritantes, a play list depende dos momentos, dos estados de espírito, da companhia.

Mazgani foi responsável pela banda sonora de alguns períodos da minha vida, esta é uma daquelas que não me canso de ouvir. 



quinta-feira, 26 de abril de 2012

25 de Abril

Dizem que as novas gerações já não fazem ideia do que foi viver em ditadura, que temos a liberdade tal como a conhecemos como adquirida e pouco valorizada, que não sabemos o que é lutar por uma causa. Eu acho que têm alguma razão. Mudam-se os tempos, vêm novas lutas e novas causas, ou talvez continuem a ser as mesmas, de um modo diferente.

Vale a pena conhecer melhor a nossa história e de que massa somos feitos.


"Na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 Lisboa assistiu a um movimento militar inusual. Homens e veículos avançam, através da noite, pela capital do império e vão ocupando, sem resistência visível, vários alvos estratégicos, com o objectivo de derrubar o regime vigente.
Os militares golpistas, auto denominados Movimento das Forças Armadas – MFA – são comandados, secretamente, a partir do Quartel da Pontinha, em Lisboa, por Otelo Saraiva de Carvalho, um dos principais impulsionadores da acção.
A par das movimentações em Lisboa, também no Porto os militares tomam posições. São ocupados o Quartel-General da Região Militar do Porto, o Aeroporto de Pedras Rubras e as instalações da RTP na cidade invicta.
Aos homens da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandados por Salgueiro Maia, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço e dos ministérios ali instalados. A coluna de blindados vindos da cidade ribatejana chega a Lisboa ainda o dia não tinha despontado, ocupa posições frente ao Tejo e controla, sem problemas aquela importante zona da capital.

Mais tarde Salgueiro Maia desloca parte das suas tropas para o Quartel do Carmo onde está o chefe do governo, Marcelo Caetano, que acaba por se render no final do dia com apenas uma exigência: entregar as responsabilidades de governação ao General António Spínola, oficial que não pertencia ao MFA, para que “o poder não caía nas ruas”. O Presidente do Conselho, que anos antes tinha sucedido a Salazar no poder, é transportado para a Madeira e daí enviado para o exílio no Brasil.
Ao longo do dia os revoltosos foram tomando outros objectivos militares e civis e, pese embora tenham existido algumas situações tensas entre as forças fiéis ao regime e as tropas que desencadearam o golpe, a verdade é que não houve notícia de qualquer confronto armado nas ruas de Lisboa.
O único derramamento de sangue teve lugar à porta das instalações da PIDE (Polícia de Investigação e Defesa do Estado) onde um grupo de cidadãos se manifestava contra os abusos daquela organização e alguns dos agentes que se encontravam no interior abriram fogo, atingindo mortalmente 4 populares.
Por detrás dos acontecimentos daquele dia 25 de Abril estão mais de 40 anos de um regime autoritário, que governava em ditadura e fazia uso de todos os meios ao seu alcance para reprimir as tentativas de transição para um estado de direito democrático.

A censura, a PIDE e a Legião e a Mocidade Portuguesas são alguns exemplos do que os cidadãos tinham de enfrentar no seu dia-a-dia. Por outro lado, a pobreza, a fome e a falta de oportunidades para um futuro melhor, frutos do isolamento a que o país estava votado há décadas, provocaram um fluxo de emigração que agravava, cada vez mais, as fracas condições da economia nacional.
Mas a gota de água que terá despoletado a acção revolucionária dos militares que, durante tantos anos tinham apoiado e ajudado a manter o regime, foi a guerra colonial em África. Com 3 frentes abertas em outros tantos países, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, os militares portugueses, passada mais de uma década, começavam a olhar para o conflito como uma causa perdida.
Internacionalmente o país era pressionado para acabar com a guerra e permitir a auto-determinação das populações das colónias. A falta de armas nas forças portuguesas era proporcional ao aumento de meios dos movimentos independentistas. Os soldados portugueses morriam às centenas a milhares de quilómetros de casa.
Todos estes factores contribuíram para um descontentamento crescente entre as forças armadas, sobretudo entre os oficiais de patentes inferiores, o que levou à organização e concretização de um golpe militar contra o regime do Estado Novo.
25 de Abril de 1974 ficará, para sempre, na história como o dia em que Portugal deu os seus primeiros passos em direcção à democracia."

Um estranho animal

Tenho uma nova colega de casa, dorme durante o dia e não pára durante toda a noite, não gosta da minha música e ainda não consegui perceber se gosta de mim, se tem apenas curiosidade ou medo. Chama-se Xana, é uma bolinha de pêlo castanho claro e cabe na palma da mão (embora não consiga parar lá muito tempo), também identificada como hamster. Alguém achou que eu me iria dar bem este estranho animal de hábitos estranhos e pronto, ali anda ela atarefada a roer tudo o que lhe aparece à frente.

Tenho que admitir que o meu conhecimento sobre esta espécie de animais é algo reduzido, por isso para já limito-me a observar e tentar perceber a sua rotina e se é possível interagir de forma segura e pacifica. Para além do ciclo circadiano funcionar ao contrário do meu (o que eu suspeito ser a causa do seu mau humor durante o dia), parece que gosta de trepar as grades da caixa, esconder a sua comida e aposto que se sente completamente invisível e protegida quando entra na casinha transparente e se esconde no meio do algodão. Já pensei que ela se pudesse sentir sozinha e gostasse de ter uma amiga, mas ao que parece são animais solitários e territoriais. Farta-se de arrumar e reorganizar a mobília e parece ainda não estar satisfeita. Tolera bem as minhas investidas, mas sempre muito desconfiada e cautelosa.

Faz-me alguma confusão ter um animal de estimação sem um propósito ou uma ligação especifica, faz companhia ou distrai, mas não dá para levar a passear, não se alegra quando eu chego, muito menos ronrona com as festinhas, mas gosto dela e havemos de nos habituar aos hábitos trocados.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Novo paradigma do turismo sexual

Discovery news


Em 2050, Bairro da luz vermelha, sexo com prostitutas andróides livres de doenças sexualmente transmissíveis. Fim do tráfico e exploração sexual imposta a mulheres/crianças trazidas da Europa Oriental e total controlo governamental dos preços, horas de trabalho e serviços sexuais é a visão futurista de dois investigadores da Nova Zelândia publicada no artigo "Robots, men and sex tourism". Ao que parece estas novas máquinas sexuais já estão a ser conceptualizadas e daqui a uns anos estarão a revolucionar o sector do turismo sexual. Haverá igualmente diversidade de etnias, de corpos, idades, língua e habilidades sexuais, tudo pensado ao pormenor para máxima satisfação dos clientes.


Para muitos, sexo é considerado uma necessidade básica e se há pessoas que satisfazem essa necessidade de forma socialmente aceite, há quem procure e esteja disposto a pagar por mais. Eu tenho alguma dificuldade em compreender (e aceitar) algumas das práticas em que assenta o turismo sexual, nada contra quem cobra por um serviço que escolheu prestar, mas a partir do momento em que não é um voluntário, mas imposto por organizações dedicadas ao efeito ou motivado pela pobreza e desespero extremo, há um desrespeito pela dignidade humana.

Há várias razoes que movem o turismo sexual e levam as pessoas (maioritariamente homens) a viajar e pagar por sexo em países estrangeiros, entre as quais a busca de aventura acompanhada de algum sentimento de culpa e vergonha. Daí a necessidade de procurar sítios fora da própria comunidade, onde o anonimato é assegurado. Eventualmente será também mais barato e fácil de alguém disposto a cumprir os seu desejos. Com os robôs há a desculpabilização do acto, a "traição" é com uma maquina e não com uma pessoa e para alem disso foram especialmente desenvolvidas para o efeito não havendo aproveitamento de condições desfavoráveis. Por outro lado tenho algumas duvidas que um robô seja capaz de estar à altura do desempenho de uma pessoa, já para não falar que impossibilidade de cumprir um dos aspectos básicos de um acto sexual entre dois seres, sentir e proporcionar prazer. Não tenho as hormonas, nem o perfil do publico alvo a quem se dirige esta tecnologia, neste momento não me vou arriscar a fazer previsões, vou apenas esperar para ver.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Longevidade

Rita Levi Montalcini, fonte
Chama-se Rita Levi Montalcini, Nobel da medicina em 1986 (descoberta dos factores de crescimento) e fez ontem 103 anos. Melhor do que isso só o facto de continuar activa na ciência, na politica e na vontade de fazer a diferença. Não sei se realmente descobriu o segredo da longevidade, mas sem duvida tem uma historia admirável.



“If I die tomorrow or in a year, it is the same — it is the message you leave behind you that counts.”
Rita Levi Montalcini

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Amor em perspectiva

A beleza das emoções e dos sentimentos reside no seu carácter primitivo e alguma resistência à racionalização completa. O amor não é excepção, e se a maioria das vezes pensar demasiado nas coisas tira-lhe o encanto, perceber a razão de alguns dos "sintomas" ajuda a que não nos sintamos tão extra terrestres.

Nestes assuntos, penso que ninguém melhor do que a antropologista Helen Fisher para nos falar de amor de  forma directa e prática (mais uma Ted talk), afinal "ele" existe por alguma razão e a nossa maquinaria encarrega-se de fazer cumprir os desígnios da natureza. (ok, também fala um pouco sobre o papel das mulheres na sociedade, efeito colateral..)


 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Falar escrevendo

Comunicar é uma das actividades básicas das maioria das pessoas. É uma aptidão mais ou menos inata que vamos desenvolvendo desde que começamos a interagir com o mundo. Há muitas formas de comunicar, através do corpo, pelos sons e movimentos ou por intermédio de vários suportes, normalmente através da escrita.

Atrevo-me a dizer, que da mesma forma como desenvolvermos aptidão para comunicar as nossas ideias, vontades e sentimentos a outros, também aprendemos a interpretar o que nos é exposto. O tom de voz, a expressão facial ou a postura são dicas que nos ajudam a enquadrar e compreender o que alguém tenta exprimir, mesmo que possam ser parcialmente manipulados para transmitir uma impressão que não corresponde inteiramente à verdade. Não é preciso ser um expert em linguagem corporal para adivinhar se alguém está aborrecido, nervoso, desconfortável ou feliz, por exemplo, se tirarmos o som a uma novela ou filme, quase que adivinhamos o que se está a passar mesmo sem ouvir uma única palavra. A dificuldade, a meu ver, prende-se com o que está escrito. É óbvio que a comunicação através da escrita é fundamental, mas há um maior risco de haver mal entendidos, principalmente quando tem maior carácter emocional. Escrever pode ser a única forma de comunicação possível para quem está longe, não tem forma de falar pessoalmente ou não se justifica ou para quem encontra um caminho mais fácil na escrita do que na comunicação directa.

Desde as tradicionais cartas, às mensagens, e e-mails uma escolha menos feliz das palavras ou sinais de expressão pode mudar completamente o tom da mensagem lida. Tem a vantagem de podermos escolher melhor as palavras e a maneira como organizamos as ideias, provavelmente não vamos ser interrompidos enquanto explicamos o que queremos explicar mas também não vemos como a pessoa reage, não temos hipótese de ajustar o discurso à reacção ou esclarecer pontos mais duvidosos. Há ainda a duração, numa conversa, raramente nos vamos lembrar de todas as palavras exactas usadas, enquanto que quando está escrito, pode ser lido, relido, reinterpretado, fica lá. Cada pessoa tem uma forma particular de escrever, um Ok solitário nuns casos pode significar uma resposta seca de conformismo contrariado como pode ser uma expressão de concordância amigável. A pouco e pouco vamos-nos habituando ao estilo de cada um e eventualmente a interpretar melhor o que é "dito", mas nada como falar, com a boca, com as mãos, os braços, os olhos, com tudo.

domingo, 15 de abril de 2012

Welcome

Não sei se é um sentimento muito ou pouco comum na maioria das pessoas, mas de vez em quando gostava de voltar uns tempos atrás e recomeçar tudo do zero ou então mudar tudo, o trabalho, as pessoas, os lugares. Tirando a ingenuidade e talvez algum egoísmo  ao desejo em si, acho que seria simplesmente fantástico. Não é o comum "se eu soubesse o que sei hoje...", é mesmo a sensação de que ter andado a passar um bocado ao lado daquilo que deveria estar a fazer ou sentir, de estar a fazer tudo "errado", mas não conseguir romper com os vícios instalados.

Se por um lado, não nos é possível voltar atrás, ainda temos alguma margem de manobra nas decisões que aí vêm. Quando menos esperamos aparecem pontos de viragem que podemos ignorar ou simplesmente arriscar. Não sei se vai ser hoje, esta semana ou para a outra, qualquer altura será boa para mudar e recomeçar.

Welcome!!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Introvertidos

 A introversão ou extroversão refere-se à predisposição das pessoas de se focarem no mundo externo ou no interno, é uma preferência natural dos indivíduos e certamente varia consoante as situações. Contudo, vivemos numa cultura em que ser social e extrovertido é altamente valorizado e muitas vezes confundido com outras características como simpatia, inteligência,  timidez e competência. Não acho que devemos ser mais ou menos extrovertidos, aliás na diversidade é que está o ganho.

Susan Cain deu uma conferencia interessante sobre o mundo dos introvertidos e a maneira como são vistos pela sociedade.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Seres complicados

Ainda não tenho idade para ter problemas com a minha idade. Aliás, gosto de pensar que o passar dos anos me trouxe serenidade, me ensinou a relativizar e me endureceu a carcaça. Estou bem resolvida com isso e aprecio a mudança.

A questão é que tudo tem o seu preço. Passamos de seres indefesos e dependentes de cuidados a adultos autónomos com planos, com encargos, com expectativas, com complicações. Pessoalmente considero as crianças muitos menos complicadas do que a maioria dos adultos. Os anos ensinam a dissimular, a seguir caminhos menos óbvios para atingir os objectivos, a repensar vontades, a ponderar tudo e mais alguma coisa. É inevitável, a autonomia paga-se com responsabilidade, por si e pelos que o rodeiam. As crianças são seres de impulsos, quando querem uma coisa manifestam essa vontade, fazem o plano para a conseguir e com mais ou menos artimanhas não se desviam do objectivo. As crianças são simples na escolha dos amigos, não precisam saber muito sobre o passado, os antecedentes, as crenças ou motivações, saber que querem brincar a mesma coisa chega e sobra para justificar a partilha. A maioria das vezes também não se importam muito com a aparência, se segue ou não as tendências da moda ou se soube conjugar as cores e os cortes. Os miúdos não perdem muito tempo a pensar nos efeitos das suas palavras, são espontâneos e a maioria das vezes sinceros, não têm grandes medos de se magoarem, bem pelo contrario, gostam de experimentar tudo e testar os limites. Quando se chateiam ou se magoam não perdem demasiado tempo com isso, nada que um pedido de desculpas e um abraço não resolva.

Desde tenra idade as boas práticas e regras de convivência e boa educação impingidas às crianças ensinam-lhes a moderar-se, a ter consciência dos outros e dos limites da sua liberdade, mas também se ensina a complicar tudo, a agir em função do efeito pretendido nos outros, a ser mais prudente. As experiências comprovam. É necessário adoptar novas estratégias.

Depois durante uns  tempos, depois de uma adolescência meio turbulenta, levamos-nos demasiado a sério. A vontade de ter controlo sobre as nossa vida e as nossas acções torna-nos menos impulsivos, arriscamos menos, experimentamos ainda menos. O habitual é tão confortável, já está de tal forma moldado aos nossos vícios que achamos que preço dessa segurança não justifica. Somos seres responsáveis, focados, quase sempre empenhados em alguma coisa, basicamente o orgulho de quem nos viu progredir. Habituados a silenciar uma boa parte das nossas necessidades, a mais incomodas e inoportunas, sentimos-nos no caminho, ás vezes realizados outras vezes bem longe disso.

Se tivermos sorte, o tempo também nos ensinará que não vale a pena nos levarmos tão a sério. Baixamos a guarda aqui e ali e afinal não houve nenhuma catástrofe natural. Começamos a questionar a rotina que nos faz tanta falta, mas nos prende a um conjunto de acções e reacções pré-definidas. Afinal há mais mundo para lá da nossa linha do horizonte, porque não. Recuperamos alguma impulsividade dos tempos da ingenuidade. Eventualmente, o estatuto conquistado permitirá uma postura mais relaxada, mais aberta aos possível e improvável. Continuamos a ser seres complicados, mas agora talvez uma pouco mais fieis ao que nos vai na alma e aos que nos rodeiam. Se conseguirmos chegar a este ponto a viagem não será perdida.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Velhos

Os valores de uma sociedade reflectem-se na forma como cuida dos seus velhos. (Antes de me julgarem uma pessoa insensível e grosseira, devo dizer que não gosto da palavra "idosos". Velhos, para mim não tem qualquer conotação negativa, significa apenas que já passaram uns anos e normalmente é um estatuto que atribuo aos que viveram mais de 80, portanto não lhes vou chamar idosos, mas sim velhos, com muito carinho).

Este fim de semana vi uma reportagem da SIC sobre os tempos de velhice em Portugal  um tanto perturbadora. Numa altura em que anda meio mundo preocupado em viver mais anos e com mais qualidade, parece-me que o papel dos velhotes na sociedade é um tanto indesejado e negligenciado. A maneira como cuidamos dos nossos velhos é de facto uma questão cultural e parece-me que andamos um pouco alheados às nossas obrigações, eventualmente, até esquecidos de que um dia também nós seremos velhotes. É incompreensivel a maneira como as pessoas se desapegam tão facilmente de quem os viu crescer, de quem lhes moldou os modos, de quem muito provavelmente fez sacrifícios para chegarem onde chegaram. As razões são muitas, trabalho, falta de tempo, outras preocupações, dificuldades económicas, ausência de condições e espaço ou incapacidade fisica e psicologica de aguentar tal encargo. Nalguns casos eu acredito que haja fortes razões que dificultam o cuidar dos velhos, noutros tenho quase a certeza que simplesmente não dá jeito. Por outro lado, mesmo que haja necessidade de delegar o cuidado de alguém a uma instituição, visitas regulares deveria ser o mínimo dos requisitos a cumprir. Infelizmente conheço o olhar de quem à muito foi esquecido, não imagino como será a sensação de sentir-se inútil e sozinho, numa fase em que tantas mudanças apenas acentuam as fragilidades e o peso da solidão. Haverá pessoas melhores adaptados a essas mudanças, outras apenas aprenderam a não esperar mais.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Criatividade e educação

Ontem o Sol trazia uma noticia que já é do conhecimento geral, mas que muita gente continua a preferir ignorar. "Maioria dos jovens licenciados portugueses 'não serve para nada'". Eu não colocaria a ideia desta forma, mas sim, a maioria das licenciaturas não prepara os alunos para nada.
Não haverá uma razão única que tenha levado a estas conclusões, entre a forma e conteúdo do ensino, mentalidade dos professores e dos alunos, parece que continuamos a formar operários, quando o que se espera e se precisa é formar pessoas criativas e autónomas com capacidade de liderança. Não admira que uma boa parte dos recém-formados não saibam o que fazer quando saem da universidade. É certo que a formação deve funcionar como rampa de lançamento e não como um fim em si, mas há por aí muitos cursos com aplicabilidade muito duvidosa, alem de nos empurrarem para uma formatação que em nada ajuda desenrascar numa altura em que deixamos de ter a papinha feita.

É caso para perguntar, será que estamos a perder tempo e criatividade com a formação?

 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Mentiras

Ontem foi dia das mentiras ou dos enganos. Dizem os entendidos que contar uma mentira é dar informações falsas, sabendo que são falsas, com intenção de enganar ou iludir quem as ouve. Por que raio há um dia das mentiras? Reconhecimento da sua existência, sentido de humor, talvez.

Dizem que não há verdades absolutas, talvez também não haja mentiras absolutas. O que é que nos leva a dizer uma verdade em vez de mentir? Segundo Friedrich Nietzsche é mais cómodo, pois a mentira exige invenção, dissimulação e memória. A mentira é uma construção, depois de iniciada é necessário alimentá-la, cobri-la devidamente. Por outro lado, todos mentimos, às vezes é mais fácil, melhor aceite, são chamadas mentiras brancas e são desculpabilizadas pela sociedade e pela nossa cultura. Até certo ponto é aceitável não dizer exactamente a verdade quando a intenção é proteger um bem maior. A subjectividade deste argumento dá margem de manobra para quase tudo. Aliás até certo ponto estamos tão habituados às pequenas mentiras que a sinceridade pura é considerada rude, antipatia.

Depois há ainda as mentiras com único intuito de enganar, de dissimular as reais intenções. A mentira pode servir apenas como forma de atingir os fins e a maioria das vezes, serve apenas quem a conta. Há mentira na politica, na religião, na economia, nas famílias e nos relacionamentos.  Assumir a verdade implica coragem, respeito por si e por quem nos ouve, é uma forma de lealdade, a base da confiança. Contudo o acto de mentir só está completo quando alguém acredita, quando alguém alinha na história que está a ser contada, implica cooperação.

Mais ou menos intuitivamente reconhecemos sinais que denunciam a mentira, nem sempre os movimentos corporais acompanham as façanhas do cérebro e das palavras, tal como Pamela Mayer refere na sua conferencia.