Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem no saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
Fernando Pessoa
Sou adepta das ciências exactas, nada me dá mais gozo do que perceber exactamente o quê, como e porquê de algumas coisas. Percebo a beleza do incontrolável e do sem explicação, mas a possibilidade de prever e conhecer dão-me uma segurança e uma sensação de controlo que conforta, mesmo quando não passa de sensação.
A fisiologia e patologia humana não são excepção. Aprende-se como funciona, o que influencia e como evolui na doença. É tudo uma questão de desenvolvimento, evolução e declínio, entram as estatísticas e conseguimos saber com antecedência uma boa parte das fatalidades que nos vão atingir. A pouco e pouco deixa de haver espaço para acreditar num resultado diferente, encara-se como inevitável, sobra a capacidade de adaptação. Eu sou claramente optimista, mas receio que tenha perdido a margem para a fé.
Durante muito tempo a ciência e a religião andaram de costas voltadas, refutando-se mutuamente, mas os exemplos de benefícios da fé inexplicáveis cientificamente não tardaram a surgir. Os casos estendem-se desde a oncologia, problemas cardíacos, recuperação de lesões traumáticas graves entre outros. Vários estudos avaliaram o impacto da fé dos doentes no processo de cura e reabilitação. É notável a forma como as pessoas com fé conseguem gerir melhor o processo da doença, encara-lo de forma mais positiva e ter mais forças para resistir e melhorar. É como se acreditassem que há uma força superior que gere os acontecimentos e que tem o poder de alterar o curso da história que lhe pintaram. Sentem-se mais amparadas, protegidas e com esperança, eventualmente a raiva que sentem pelo seu estado dá lugar à esperança. Estes sentimentos têm influencia no organismo, nomeadamente ao nível do sistema imunitário, cardíaco e neurológico, podendo contribuir para a efectiva recuperação/cura das pessoas. Posto isto, é lógico que eu defendo e respeito a fé das pessoas.
O lado mais obscuro da fé, do meu ponto de vista, prende-se com o uso e abuso desta por parte de terceiros, que nem sempre têm em consideração o impacto final nos doentes. Ou seja, a doença torna as pessoas mais vulneráveis a todo o tipo de histórias e caminhos alternativos que pareçam ter o poder de contrariar a evolução da sua doença e a par desta constatação surgiram pessoas que se concentram em utilizar a fé das pessoas para seu próprio proveito. Exemplos disto são algumas ditas "igrejas" brasileiras ou outras que incentivam as pessoas a dar o que têm e não têm a troco de melhorias na sua vida/cura de doenças, a um nível mais arcaico encontram-se bentas e bentos e pessoas dotadas para ler e interpretar a sina e o passado das pessoas e como se isso não bastasse de alterar, para melhor claro, a situação dessas pessoas em troca de simbólicas quantias de dinheiro. A um nível ainda mais amador encontram-se os sabem tudo que já viram de tudo e asseguram que os médico não sabem de nada, ao contrario deles, que por acaso conhecem meia duzia de casos, tal e qual, que tiveram um desfecho tão diferente. Embora eu reconheça os benefícios da fé, o mesmo não posso dizer deste tipo de organizações/indivíduos.
A história da fé torna-se um pouco mais complicada quando se aproxima de nós, ou melhor, de alguém próximo de nós, de quem gostamos e nos preocupamos. Se de uma forma geral eu incentivaria as pessoas com qualquer tipo de doença a acreditar na resolução dos seus problemas, quando se trata de algo próximo a minha tendência é para ser optimista mas muito realista. Ou seja, encarar os acontecimentos pelo melhor lado possível e perante o prognóstico mais provável preparar/adaptar para o que aí vem. Gostava de acreditar genuinamente que, por obra de algo inexplicável, tudo se iria resolver e voltar à melhor forma possível. Mas não consigo. A ciência contou-me como iria ser e isso não me sai da cabeça. Nesta altura eu acho que o melhor a fazer é adaptar. Eu já tentei todas as abordagens possíveis de imaginar, mas sinceramente nenhuma me deixou tranquila. Incentivar as pessoas a aceitar os factos crus, tal como eu os vejo, poderia fazer com que aceitassem melhor os acontecimentos e efectivamente se adaptassem mais rapidamente, mas iria abalar a sua esperança e a fé. Incentivar e partilhar essa fé poderia lhes dar mais conforto, mas receio uma desilusão dolorosa a longo prazo, ou não tão longo assim. Por outro lado, posso abster-me de mostrar os meus reais sentimentos e preocupações face à situação, mas não sou capaz de simular o que não sinto. De certa forma Fernando Pessoa tinha razão, mesmo que não o saibam, só a inocência e a ignorância são felizes.
Felizes, mas não o sabem. São-no ou não?
Que é ser sem no saber? Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
Fernando Pessoa
Sou adepta das ciências exactas, nada me dá mais gozo do que perceber exactamente o quê, como e porquê de algumas coisas. Percebo a beleza do incontrolável e do sem explicação, mas a possibilidade de prever e conhecer dão-me uma segurança e uma sensação de controlo que conforta, mesmo quando não passa de sensação.
A fisiologia e patologia humana não são excepção. Aprende-se como funciona, o que influencia e como evolui na doença. É tudo uma questão de desenvolvimento, evolução e declínio, entram as estatísticas e conseguimos saber com antecedência uma boa parte das fatalidades que nos vão atingir. A pouco e pouco deixa de haver espaço para acreditar num resultado diferente, encara-se como inevitável, sobra a capacidade de adaptação. Eu sou claramente optimista, mas receio que tenha perdido a margem para a fé.
Durante muito tempo a ciência e a religião andaram de costas voltadas, refutando-se mutuamente, mas os exemplos de benefícios da fé inexplicáveis cientificamente não tardaram a surgir. Os casos estendem-se desde a oncologia, problemas cardíacos, recuperação de lesões traumáticas graves entre outros. Vários estudos avaliaram o impacto da fé dos doentes no processo de cura e reabilitação. É notável a forma como as pessoas com fé conseguem gerir melhor o processo da doença, encara-lo de forma mais positiva e ter mais forças para resistir e melhorar. É como se acreditassem que há uma força superior que gere os acontecimentos e que tem o poder de alterar o curso da história que lhe pintaram. Sentem-se mais amparadas, protegidas e com esperança, eventualmente a raiva que sentem pelo seu estado dá lugar à esperança. Estes sentimentos têm influencia no organismo, nomeadamente ao nível do sistema imunitário, cardíaco e neurológico, podendo contribuir para a efectiva recuperação/cura das pessoas. Posto isto, é lógico que eu defendo e respeito a fé das pessoas.
O lado mais obscuro da fé, do meu ponto de vista, prende-se com o uso e abuso desta por parte de terceiros, que nem sempre têm em consideração o impacto final nos doentes. Ou seja, a doença torna as pessoas mais vulneráveis a todo o tipo de histórias e caminhos alternativos que pareçam ter o poder de contrariar a evolução da sua doença e a par desta constatação surgiram pessoas que se concentram em utilizar a fé das pessoas para seu próprio proveito. Exemplos disto são algumas ditas "igrejas" brasileiras ou outras que incentivam as pessoas a dar o que têm e não têm a troco de melhorias na sua vida/cura de doenças, a um nível mais arcaico encontram-se bentas e bentos e pessoas dotadas para ler e interpretar a sina e o passado das pessoas e como se isso não bastasse de alterar, para melhor claro, a situação dessas pessoas em troca de simbólicas quantias de dinheiro. A um nível ainda mais amador encontram-se os sabem tudo que já viram de tudo e asseguram que os médico não sabem de nada, ao contrario deles, que por acaso conhecem meia duzia de casos, tal e qual, que tiveram um desfecho tão diferente. Embora eu reconheça os benefícios da fé, o mesmo não posso dizer deste tipo de organizações/indivíduos.
A história da fé torna-se um pouco mais complicada quando se aproxima de nós, ou melhor, de alguém próximo de nós, de quem gostamos e nos preocupamos. Se de uma forma geral eu incentivaria as pessoas com qualquer tipo de doença a acreditar na resolução dos seus problemas, quando se trata de algo próximo a minha tendência é para ser optimista mas muito realista. Ou seja, encarar os acontecimentos pelo melhor lado possível e perante o prognóstico mais provável preparar/adaptar para o que aí vem. Gostava de acreditar genuinamente que, por obra de algo inexplicável, tudo se iria resolver e voltar à melhor forma possível. Mas não consigo. A ciência contou-me como iria ser e isso não me sai da cabeça. Nesta altura eu acho que o melhor a fazer é adaptar. Eu já tentei todas as abordagens possíveis de imaginar, mas sinceramente nenhuma me deixou tranquila. Incentivar as pessoas a aceitar os factos crus, tal como eu os vejo, poderia fazer com que aceitassem melhor os acontecimentos e efectivamente se adaptassem mais rapidamente, mas iria abalar a sua esperança e a fé. Incentivar e partilhar essa fé poderia lhes dar mais conforto, mas receio uma desilusão dolorosa a longo prazo, ou não tão longo assim. Por outro lado, posso abster-me de mostrar os meus reais sentimentos e preocupações face à situação, mas não sou capaz de simular o que não sinto. De certa forma Fernando Pessoa tinha razão, mesmo que não o saibam, só a inocência e a ignorância são felizes.